Você já se sentiu insegura ao interpretar os símbolos de um conto?
Imagine uma contoterapeuta que já conhece a Contoterapia® e começou a aplicar os contos em grupos e atendimentos. Ela estudou a metodologia, tem uma relação profunda com as histórias e sente que a prática faz sentdio. Mas, conforme conduz os encontros, um desconforto começa a surgir.
Na útlima sessão, ao contar um conto para um grupo, uma das participantes perguntou:
"O que significa o espelho nesse conto?"
A contoterapeuta hesitou. Ela sabia que o espelho pode representar a verdade, o reflexo da alma, a ilusão… Mas será que essa era a resposta certa?
No mesmo grupo, outra participante compartilhou um insight profundo sobre um símbolo que não estava no conto original, mas que ela enxergou na história.
“Eu senti que aquela chave representa um momento da minha infância, quando finalmente consegui acessar algo dentro de mim.”
A contoterapeuta se pegou pensando:
“Eu deveria corrigir? Explicar que a chave tem um significado específico na tradição? Ou permitir que a participante encontre o próprio sentido?”
Então, em outro momento, ao atender uma paciente individual, a contoterapeuta percebeu algo mais inquietante:
• Algumas vezes, ela se sentia pressionada a ter todas as respostas sobre os símbolos.
• Outras vezes, sentia que forçava uma interpretação, como se estivesse ensinando algo fechado, e não abrindo espaço para o conto atuar.
• Ela se perguntava: “Estou interpretando certo? Estou deixando o conto respirar?”
E então surge a pergunta essencial:
“Como interpretar símbolos nos contos de forma respeitosa e sem limitar seus significados?”
Essa não é uma dúvida técnica, mas sim uma questão existencial para a contoterapeuta.
Ela busca confiança na sua escuta, quer se sentir segura sem ser rígida, deseja saber quando guiar e quando soltar. No fundo, ela não está apenas perguntando sobre os símbolos. Ela está perguntando como se tornar uma contoterapeuta que confia no processo narrativo e no poder das histórias.
Se você já passou por esse momento, este artigo é para você. Vamos explorar três chaves essenciais para compreender os símbolos nos contos terapêuticos e como interpretá-los na Contoterapia®, sem reduzi-los a significados rígidos.

1. O símbolo se revela na repetição
Um símbolo não surge isolado—ele se tece ao longo da narrativa. Para percebê-lo, observe os elementos que se repetem na história:
• Há um objeto recorrente? (chave, espelho, fogo, água)
• Alguma cor é mencionada várias vezes? (vermelho, dourado, preto)
• Um gesto se repete? (olhar para trás, atravessar um rio, abrir uma porta)
Nos contos tradicionais, a repetição não é um detalhe estético: ela é uma sinalização simbólica. Assim como os sinos dobram antes de um ritual, os símbolos se repetem na história para chamar a atenção do ouvinte para algo essencial.
Exemplo:
No conto de Chapeuzinho Vermelho, a cor do capuz se repete. O vermelho pode ser interpretado de diversas formas: fogo, paixão, maturidade, perigo, sangue, iniciação. Mas sua verdadeira chave só se revela quando olhamos para como e quando ele aparece na narrativa.
2. O símbolo muda conforme o contexto
Muitas vezes, o erro ao interpretar um símbolo está em buscar um significado fixo e universal, sem considerar o contexto da história e do ouvinte. Eu gosto muito e opto começar pelo Dicionário de Símbolos de Jean Gheerbrant e Alain Chevalier porque ele não fecha um determinado símbolo, ele traz como esse símbolo aparece em diferentes culturas e épocas.
Sim, interpretar ou analisar psicológicamente um conto é sempre empolgante, porque gostamos de respostas, mas não podemos esquecer que toda interpretação é uma redução e nosso papel como contoterapeutas é socrático, é maiêutico. Nossa função é ajudar nosso paciente, participante, cliente, a encontrar e parir o próprio conhecimento. Interpretações são para os momentos de estudos, são pedagógicas. Se quisermos realmente alcançar um efeito terapêutico, então precisamos estar atentos a essa condução.
Assim, um lobo pode representar o instinto selvagem, a sombra, o predador. Mas também pode ser um guia, um mestre iniciador ou um aliado. Depende da história.
Um espelho pode ser um portal para o autoconhecimento, mas também um véu de ilusão. Um caminho bifurcado pode representar escolhas difíceis ou um convite à liberdade.
O símbolo não tem uma única face. Ele dança com o conto e com a escuta.
Exemplo:
No conto A Mulher Esqueleto, o esqueleto arrastado pelo pescador pode simbolizar medo da morte, a jornada da intimidade ou a ciclicidade da vida. Não há uma única resposta: há um campo simbólico que se expande conforme a experiência do ouvinte.
3. O símbolo só se completa no encontro com quem escuta
O terceiro movimento na leitura de símbolos é reconhecer que o conto não fala sozinho. Ele fala com alguém. Por favor contoterapeutas, nunca se esqueça disso!
Se para uma contoterapeuta o fogo representa transformação e renascimento, para outra pessoa ele pode trazer memórias de destruição e perigo. Se um paciente sonhou com um rio, sua relação com a água será diferente para cada contexto de vida.
Por isso, na Contoterapia®, não damos respostas fechadas—abrimos portas.
Perguntamos ao paciente:
• O que essa imagem desperta em você?
• Como esse símbolo se manifesta na sua vida?
• Onde esse elemento já apareceu na sua história pessoal?
O mesmo conto pode tocar diferentes camadas dentro de cada ouvinte. Como contoterapeutas, nosso papel não é interpretar para o outro, mas sim oferecer um espaço onde a história encontre seu próprio eco na experiência de quem escuta.

Os símbolos não são conceitos prontos, são sementes. Você pode saber o que é uma semente de carvalho, mas só ao plantá-la, ao vê-la crescer e sentir sua sombra, compreenderá seu real significado.
Assim também é com os contos. Primeiro, observamos. Depois, sentimos. Só então, com o tempo, os símbolos se revelam a quem está pronto para vê-los.
A interpretação de um conto não é um exercício intelectual. É um ritual de escuta.
Conclusão: O Papel da Contoterapeuta na Leitura Simbólica
Ao interpretar os símbolos de um conto, lembre-se:
✔ O símbolo se revela na repetição.
✔ O símbolo muda conforme o contexto.
✔ O símbolo só se completa no encontro com o ouvinte.
A Contoterapia® não trabalha com respostas fechadas, mas com a abertura de novos significados. Como contoterapeutas, somos tecelãs de sentido, facilitadoras do diálogo entre o conto e a alma de quem o escuta.
Agora me conta: você já teve um momento em que um símbolo num conto ressoou profundamente com sua história pessoal? Como foi essa experiência? Deixe seu comentário!
Abraços,
Anna Rossetto
Comments