O universo da mente humana é um campo vasto e fascinante de exploração. Com o avanço dos estudos em neurociência, ganhamos insights valiosos sobre nós mesmos. Um artigo publicado na Frontiers chamado " A Neurobiologia da Imaginação..." (tradução livre e abreviada) aborda a complexidade das imagens mentais, da imaginação e da Rede de Modo Padrão. Dada a importância da imaginação na criação de contos e símbolos, é tentador traçar uma conexão entre a ciência e a arte da narrativa.
A imaginação e a Mente Humana
A imaginação é uma das capacidades mais fascinantes do ser humano. Ela nos permite criar imagens mentais de situações, lugares e eventos que nunca vivenciamos. Segundo o artigo mencionado, a imaginação é a capacidade de nossos circuitos neurais combinarem imagens com origens perceptuais diretas e conceitos para produzir imagens e especulações originais. Em outras palavras, a imaginação nos permite criar "objetos mentais" novos e únicos, moldados pelo nosso mundo interior.
Vou te fazer um convite para fechar os olhos e imaginar um vasto oceano. Cada onda que se forma é um pensamento, e cada corrente que flui, uma emoção. No centro desse oceano, encontra-se uma ilha, a ilha da imaginação. A imaginação é uma das capacidades mais notáveis do cérebro humano. Ela nos permite criar, sonhar e viajar para lugares distantes sem sair do lugar. Por exemplo, pense em J.K. Rowling e sua criação do mundo mágico de Harry Potter. A partir de sua imaginação, ela construiu um universo inteiro que cativou milhões.
Mas, o que realmente acontece em nosso cérebro quando imaginamos? A neurobiologia nos mostra que, ao imaginar, ativamos uma rede específica de áreas cerebrais, conhecida como Rede de Modo Padrão (DMN). Esta rede é ativada quando nossa mente vagueia, quando nos perdemos em devaneios ou quando refletimos sobre nós mesmos. Um estudo realizado em 2017 na Universidade de Harvard mostrou que, ao pedir aos participantes que imaginassem cenários futuros, a DMN era consistentemente ativada, indicando seu papel crucial na imaginação.
Rede de Modo Padrão
A DMN, também conhecida como Rede Cerebral Padrão, é uma rede cerebral de larga escala. Ela é composta por regiões do cérebro que apresentam atividade altamente correlacionada entre si, diferenciando-se de outras redes cerebrais. Esta rede é especialmente ativa quando não estamos focados no mundo exterior, como quando estamos divagando ou sonhando acordados. Contudo, a DMN também se mostra ativa em momentos de introspecção, lembranças e planejamento. Fonte
O termo "modo padrão" foi cunhado pelo neurologista Marcus E. Raichle em 2001 para descrever a função cerebral em estado de repouso. Desde então, a DMN tornou-se um tema central na neurociência, com pesquisadores explorando sua função e importância no cérebro humano. Mas a história da DMN remonta a Hans Berger, o inventor do eletroencefalograma, que propôs que o cérebro está constantemente ocupado. No entanto, foi na década de 1990, com o advento da tomografia por emissão de pósitrons (PET), que os pesquisadores começaram a perceber a atividade contínua do cérebro, mesmo em repouso.
Inicialmente ela foi observada como estando desativada em certas tarefas orientadas a objetivos, mas pesquisas subsequentes mostraram que ela pode estar ativa em outras tarefas, como memória de trabalho social ou tarefas autobiográficas. Disfunções na DMN foram observadas em pessoas com Alzheimer e transtorno do espectro do autismo. Por exemplo: quando sonhamos acordados, imagine que você está sentado em uma sala de aula ou em uma reunião e sua mente começa a divagar. Você começa a pensar sobre o que fará no fim de semana ou relembra uma memória de infância. Durante esses momentos, a DMN está ativa. Outro exemplo é quando planejamos o futuro, quando você está planejando uma viagem ou pensando sobre seus objetivos de vida, você está usando a DMN.
Imaginação e Imagens Mentais
O artigo sobre a neurobiologia da imaginação sugere que a imaginação pode emergir da "imagery" (as imagens mentais) através de um processo chamado "exaptação", um conceito da evolução que descreve como características desenvolvidas por uma razão podem ser cooptadas para uma nova função. Por exemplo: imagine as penas nas aves. Originalmente, as penas podem ter evoluído para a termorregulação, ajudando os animais a manterem-se aquecidos. No entanto, ao longo do tempo, as penas foram cooptadas para uma nova função: o voo. Assim, o que começou como uma adaptação para o calor tornou-se crucial para a capacidade das aves de voar. Esse processo de mudança de função é um exemplo de exaptação.
A imaginação é vista como um produto da capacidade dos circuitos neurais de combinar imagens com origem perceptual direta e conceitos para produzir imagens e especulações originais. Mas qual a diferença entre imagem mental e imaginação segundo o artigo?
Imagem mental é a produção de imagens explícitas e implícitas. As imagens mentais implícitas ocorrem quando as informações perceptuais são acessadas a partir da memória, dando origem à experiência de "ver com a mente" ou "ouvir com a mente". Já a imaginação é a capacidade de formar imagens mentais de algo que não está presente ou nunca foi diretamente experimentado. A imaginação permite criar novas imagens mentais combinando e modificando informações perceptuais armazenadas de maneiras novas, inserindo-as em uma visão subjetiva do mundo.
Mitos e Símbolos: Ecos do Passado
Em nossa jornada pelo entendimento da mente, encontramos uma floresta ancestral, onde árvores guardam segredos de eras passadas. Estas árvores simbolizam os mitos e símbolos que permeiam nossa cultura e psiques. Os mitos são histórias ancestrais, contadas de geração em geração, carregando verdades universais sobre a existência humana. Eles falam de heróis e monstros, de amores e tragédias, de deuses e mortais. Pense nos mitos gregos, por exemplo. Histórias como a de Ícaro, que voou muito perto do sol, ou de Prometeu, que roubou o fogo dos deuses, carregam verdades universais sobre ambição, punição e redenção. Estes mitos, contados de geração em geração, servem como reflexos de nossas próprias vidas e dilemas.
Já os símbolos são como bússolas, guiando-nos através dos labirintos da mente. Eles carregam significados profundos, servindo como chaves para desvendar os mistérios da alma humana. Pense no Yin e Yang, um símbolo que representa a dualidade e a interconexão das forças opostas. Em terapia, mitos e símbolos são ferramentas poderosas, pois nos conectam com nosso eu mais profundo e com a sabedoria coletiva da humanidade.
Conclusão
Ao final desta exploração, percebemos que ciência e magia, longe de serem opostas, são complementares. Seriam elas duas faces da mesma moeda? A mente humana é um cosmos em miniatura, repleto de estrelas de imaginação, florestas de mitos e cavernas de sabedoria. Assim como os antigos navegadores se orientavam pelas estrelas, nós também podemos usar histórias, símbolos e descobertas científicas como bússolas em nossa jornada existencial.
Então, da próxima vez que você se perder em um conto ou se maravilhar com um símbolo antigo, lembre-se da dança mágica da mente e do maravilhoso encontro entre ciência e magia. E continue explorando, pois cada jornada traz novas descobertas e aventuras.
Comentários