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Níveis de Contoterapia


O que é Contoterapia?


Contoterapia é o uso de contos como ferramenta de desenvolvimento humano. Confesso que essa é a versão mais resumida que consigo chegar sobre tudo o que a contoterapia pode fazer. Existe uma postagem bem completa sobre esse assunto aqui.


Poderíamos falar de benefícios, de resultados, de metodologias, aplicações, áreas de influência e com certeza seria encantador. Mas quando falo de nível de contoterapia é porque quero chamar a atenção para as sutilezas da sua aplicação. Afinal de contas, utilizar contos, que são muitos, no contexto de desenvolvimento, que são variados, pode ficar meio vago.


E para que haja clareza de raciocínio vale a pena nos atermos a alguns conceitos e definições. O que chamamos de conto é geralmente um gênero textual marcado pela narrativa curta, escrita em prosa e de menor complexidade em relação aos romances. A origem dos contos está relacionada à tradição de contar histórias de forma verbal. Quando transcritas, essas mesmas histórias (que geralmente seguem uma trama única) resultam em uma narrativa concisa que pode ser lida em pouquíssimo tempo.


Diferença da Biblioterapia


Então veja, diferente da biblioterapia que é um método facilitador do desenvolvimento pessoal e da resolução de problemas através dos livros, segundo Phersson e McMillen, 2006, encontrado no site A Biblioterapeuta, a contoterapia tem como foco o uso de histórias, dos contos, de acordo com a tradição oral. Não é sobre ler uma história, é sobre contar uma história. E é aqui que a sutileza chega e começamos a perceber diferentes níveis de aplicação.


Não existe contoterapeuta que não é contador de histórias. Se os contos nasceram da tradição oral, e, contoterapeutas utilizam esses contos, o mínimo que podemos esperar é que essa contoterapeuta seja um contador de histórias, realmente conheça a arte de contar histórias, conheça e percorra esse ofício. Não faz sentido muito sentido um contoterapeuta que não conta histórias, não é mesmo? O ofício do contador de histórias é a base para a utilização dos contos como ferramenta.


Só isso Anna? Então todo contador de histórias é um contoterapeuta?


Eu acho que não deixa de ser. Afinal, desde o início dos tempos os contadores de histórias tem sido professores, artistas, guias, defensores de mudanças e curadores da humanidade. O que o contoterapeuta percebeu foi que abordar as complexidades da experiência humana, os comportamentos e os sentimentos e emoções com história é de certa forma, muito eficaz porque é respeitoso, é indireto e é uma língua universal.


A língua universal


E qual é a língua universal? Qual é a língua que gera união?


A linguagem simbólica.


Independentemente de qual língua falada utilizamos, a linguagem simbólica é a única compreensível à todos os seres humanos, é a única que unifica.


E onde encontramos símbolos e alegorias aos montes? Onde encontramos imagens aos montes? Onde encontramos a união de imagem e significado/sentido?


Um dos lugares, embora não único, é definitivamente nos contos.


O contoterapeuta trabalha no reino intermediário e precisa da linguagem simbólica para ter cada vez mais desenvoltura no seu ofício. Esse trabalho no reino intermediário impacta o reino concreto, muito embora não seja nele praticado. Nesse sentido, quantas e quantas outras abordagens de desenvolvimento humano podem se beneficiar do uso de contos? Várias não é? A contoterapia é definitivamente uma pratica de apoio a qualquer outra abordagem terapêutica e que o casamento do contador de histórias com o profissional que trabalha com essas outras abordagens resultaria em contoterapeutas.


Os níveis de contoterapia


Agora, e os níveis Anna?


Aí é que está, contoterapia tem menos a ver com o uso de recursos para contar histórias e muito mais a ver com a permissão de mergulhar no próprio mundo interno para servir histórias. E só aprendemos a fazer isso, a acessar essa vulnerabilidade, a dar essa permissão, ao percorrermos o ofício do contador de histórias. Ao experienciarmos consistentemente a arte de contar histórias. Contar histórias é sobre compartilhar imagens e não sobre falar palavras. Qualquer um pode falar palavras, mas quantos conseguem realmente compartilhar imagens?


E sim, dá para contar palavras, ou mesmo até contar imagens, mas nesse caso corremos o risco de permanecermos num nível muito mental e de pouca transformação. A beleza e a eficácia de se trabalhar com contos como uma ferramenta de desenvolvimento humano vem da conexão que acontece além das palavras, a conexão das emoções geradas pelas imagens. Afinal de contas, somente em torno de 20% de nossa comunicação se dá em palavras, dados, fatos. Os outros 80% esta relacionado com intenção, emoções, micro expressões faciais, postura, pensamento, etc.


Os níveis de contoterapia são os níveis que o contoterapeuta se permite experimentar ao mergulhar na história que escolheu trabalhar. Percebemos facilmente esses níveis graças aos nossos neurônios espelho. Experimentamos exatamente o que o contoterapeuta se permitiu experimentar, não tem como mentir isso, é uma conexão além das palavras, além do consciente. Inclusive, tem um estudo realizado pela Universidade de Princeton em 2010 que registrou atividade cerebral em duas pessoas enquanto uma contava uma história e a outra ouvia. Perceberam que quanto maior a compreensão do ouvinte, mais de perto os padrões de onda cerebral espelhavam os do contador de histórias (Stephens, 2010). Num mundo ideal, a história que esse contoterapeuta está utilizando é uma história que ele se permitiu mergulhar.


Quanto mais permissão ele se der, mais permissão ele te dá e mais transformador seu processo será.




Stephens, G.J. et al. Speaker-listener neural coupling underlies successful communication. PNAS, 2010, Disponível em: https://www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.1008662107




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