Os perigos da contoterapia mal conduzida são uma preocupação real que exige mais do que a habilidade de contar histórias — mesmo que você não as saiba contar e apenas as leia. Com a crescente popularidade dos grupos online e a promessa de praticidade, novos desafios e riscos surgem que podem comprometer a segurança e a qualidade das sessões. Se você é contoterapeuta ou está pensando em liderar grupos, entender esses perigos é crucial para conduzir com ética, eficácia e responsabilidade.
1. Superexposição Emocional: Quando as Histórias Despertam Demais
Trabalhar com contos, sejam quais contos forem, inclusive com contos como os de Mulheres que Correm com Lobos, de Clarissa Pinkola Estés, é inspirador, mas sem a devida preparação e contenção, pode ter um efeito avassalador. Histórias que evocam arquétipos poderosos tocam emoções profundas. Participantes, tocadas por essas imagens e símbolos, podem sair das sessões emocionalmente desreguladas e em crise.
Exemplo Real: Psicólogos relatam que clientes chegam em estado de crise após sessões de grupos de contoterapia mal conduzidas, precisando de apoio psicológico para retomar a estabilidade. Sem o suporte adequado, a sessão, que deveria ser terapêutica, se transforma em um desencadeador de angústia.
Solução: Prepare as participantes com uma introdução sobre as possíveis reações emocionais e use técnicas de grounding no final da sessão para estabilizar as emoções. A contoterapia deve ser uma ponte segura entre a mente e o coração, não um salto no desconhecido.
2. Autoanálise Improvisada: Reflexão ou Confusão?
Sem orientação, a identificação com personagens e símbolos pode levar a interpretações perigosas e distorcidas. Continuando com o exemplo do livro mais popular nos círculos de contoterapia, o conto “La Llorona”, presente em Mulheres que Correm com Lobos, é um exemplo poderoso. Trata-se de uma história que aborda o arrependimento e a culpa de uma mulher que, em um momento de desespero, sacrifica seus filhos e, após perceber o horror do que fez, passa a vagar como um espírito penitente. Participantes que se identificam com esse arquétipo podem sair da sessão acreditando que carregam um papel de “vítima sacrificada” em suas vidas, sem a devida orientação para processar e contextualizar essa percepção.
Exemplo Real: Uma participante saiu de uma sessão em grupo de contoterapia acreditando que seu papel familiar era de “vítima sacrificada”, apenas por ter se identificado com o personagem de La Llorona. Sem uma reflexão guiada, essa percepção gerou semanas de sentimentos de impotência e autocomiseração.
Solução: Explique que as histórias são ferramentas simbólicas e que as interpretações não são verdades absolutas, mas sim pontos de partida para reflexão e autodescoberta.
3. Falta de Distinção entre Pedagogia, Terapia e Psicoterapia
Uma sessão de contoterapia em grupo precisa ter clareza sobre sua abordagem. Se é pedagógica, terapêutica ou psicoterapêutica, essa distinção deve ser comunicada. Imagine um grupo de 30 participantes online: mesmo que todas sejam bem-intencionadas, a realidade é que não há como contemplar todos de forma segura e eficaz em um encontro desse porte.
Exemplo Real: Participantes relatam frustração por não serem ouvidas ou atendidas adequadamente em sessões superlotadas. A falta de atenção personalizada pode levar a uma sensação de negligência e até retraumatização para quem compartilhou algo emocionalmente significativo e não recebeu retorno adequado.
Solução: Limite o número de participantes para que todos possam ser vistos e ouvidos. Lembre-se: no campo das terapias, a segurança emocional e a ética precisam vir antes da quantidade de dinheiro que você vai fazer com o grupo. Caso contrário, as pessoas não são mais do que números na sua conta bancária e não almas encontrando almas. Seja contoterapeuta, mas não perca sua humanidade.
4. Impacto da Condução Online e em Locais Improvisados
A condução de grupos online tem suas vantagens, mas também apresenta desafios significativos. E quando falamos de conduzir sessões em locais improvisados, como aeroportos, os riscos aumentam exponencialmente. Por mais que exista um contrato de sigilo, a verdade é que manter a privacidade e a presença integral em um local público é impraticável.
Exemplo Real: Uma contoterapeuta decide conduzir um grupo online do aeroporto, atraída pela praticidade. No entanto, entre anúncios, movimentação constante e distrações, a sessão perde fluidez e a atenção da facilitadora é dividida. A confidencialidade? Comprometida a cada pessoa que passa por perto.
Consequências:
• Redução da Qualidade Terapêutica: A atenção dividida da facilitadora resulta em respostas superficiais e desconexas, prejudicando o impacto terapêutico.
• Ambiente Impessoal e Inseguro: Os participantes sentem a falta de um espaço seguro, o que impede que se abram emocionalmente e explorem suas histórias com profundidade.
Solução: Conduza suas sessões em locais privados e silenciosos para garantir sigilo e presença total. Ou você realmente acredita que uma contoterapeuta que faz sessões de um aeroporto, que não teve a consideração de abrir tempo e espaço para conduzir um trabalho terapêutico sério, vai ter a consideração de abrir tempo e espaço para você?
5. Promessas Vazias: O Perigo das Expectativas Não Atendidas
Cursos e formações que prometem “altos ganhos” e o status de “contoterapeuta referência” atraem pessoas em busca de reconhecimento e sucesso rápido. No entanto, essas promessas muitas vezes não são acompanhadas de uma formação sólida e prática consistente. Isso resulta em facilitadores que, ao invés de se destacarem pela profundidade e ética, acabam oferecendo experiências superficiais e práticas padronizadas.
Exemplo Real: Participantes de cursos que prometem altos ganhos relatam que saem sem as ferramentas necessárias para conduzir grupos com eficácia e segurança, e, na prática, enfrentam dificuldades em entregar o que foi prometido.
Solução: Invista em formações que entreguem conteúdo aprofundado e capacitação real. Ser um(a) contoterapeuta de verdade é muito mais do que ter um título; é ter a capacidade de criar espaços de transformação genuína.
6. Empolgação sem Preparação: O Perigo da Transição de Carreira
Muitas pessoas se encantam com terapias holísticas e sistêmicas porque encontram alívio para suas próprias dores e transformam sofrimentos em cura. Com isso, descobrem um propósito de vida e querem compartilhar essa experiência com o próximo. No entanto, ser contoterapeuta exige mais do que paixão: requer um conhecimento profundo de contos, símbolos, oralidade, escrita e condução de grupos. E isso leva tempo e prática.
Exemplo Real: Alguém vindo de uma carreira em jornalismo, TI ou advocacia faz um curso de contoterapia de poucas semanas e acredita estar pronta para liderar grupos. Sem formação sólida, essa pessoa não tem as ferramentas necessárias para lidar com a complexidade emocional dos participantes, o que pode resultar em danos.
Solução: Se você está fazendo uma transição de carreira, invista em formação contínua e prática supervisionada. Entenda que um curso breve não é suficiente para garantir que você conduza grupos com segurança e eficácia.
Reflexão Final: Como Garantir uma Prática Ética e Transformadora
A contoterapia é uma prática transformadora, mas liderar grupos exige preparo, ética e comprometimento real. Realizar sessões em locais inapropriados, com participantes demais ou com formação insuficiente compromete a experiência e a segurança de todos. Oferecer contoterapia é mais do que seguir um roteiro ou uma fórmula; é honrar a profundidade da prática e respeitar cada alma que compartilha sua história.
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