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Foto do escritorAnna Rossetto

Quando o Conto Não Dá Conta: Entenda os Limites do Uso de Contos em Sessões Terapêuticas




Os contos de fadas e histórias tradicionais desempenham um papel fundamental em abordagens terapêuticas, servindo como ferramentas poderosas para o autoconhecimento, a cura emocional e o desenvolvimento pessoal. A máxima “o conto dá conta” nos lembra da confiança que os contoterapeutas depositam no poder simbólico das histórias. No entanto, muitos contoterapeutas ainda recorrem apenas à leitura, sem explorar a arte de contar histórias de forma envolvente. E é justamente aí que, às vezes, o conto não dá conta de alcançar todo o seu potencial terapêutico. Claro, existem mais fatores e neste artigo, vamos explorar o que é essencial para que um conto “dê conta” em uma sessão e os fatores que podem limitar sua eficácia, revelando como a contação pode transformar a experiência de quem ouve.


O Que É Fundamental para que um Conto “Dê Conta”?


1. Narrativa Imersiva e Contação Autêntica


Forma de Apresentação: Contar uma história de forma viva, com variações de entonação, ritmo e pausas, é essencial para criar uma experiência imersiva. A contação permite que o ouvinte se conecte emocionalmente e sinta os símbolos da narrativa de forma mais profunda.

Espaço para a Imaginação: A contação de histórias oferece espaço para que a imaginação do ouvinte flua, algo que a leitura muitas vezes não alcança. É nesse espaço que o conto realmente pode “dar conta” de provocar reflexões e insights.


2. Alinhamento e Escolha Adequada do Conto


Resonância com o Cliente: A escolha do conto deve refletir as necessidades e o momento emocional do ouvinte. Contoterapeutas que dominam a arte de contar histórias conseguem ajustar a narrativa de forma mais orgânica para manter a relevância e ressonância do conto.

Riqueza Simbólica: Um conto que carrega arquétipos e símbolos universais tem o poder de acessar camadas profundas do inconsciente, facilitando a cura e o autoconhecimento.


3. Presença de Arquétipos e Estrutura Transformadora


Heróis e Vilões: Personagens arquetípicos, como o herói e o vilão, são fundamentais para que o ouvinte se identifique e projete suas próprias experiências. A contação traz esses elementos à vida de maneira mais intensa e envolvente.

Jornada de Transformação: A estrutura narrativa de desafio e resolução é o que permite ao ouvinte vivenciar a jornada de forma simbólica e emocional. A habilidade de contar a história amplifica essa experiência.


4. Abertura à Interpretação Pessoal


Ambiguidade Significativa: Contos que deixam espaço para múltiplas interpretações permitem que cada ouvinte projete suas próprias experiências e encontre respostas únicas.

Respeito pela Individualidade: Contar uma história de forma aberta, sem impor significados, convida o ouvinte a explorar seu próprio processo de reflexão.


Quando o Conto Deixa de “Dar Conta”


1. Apresentação Monótona ou Leitura Mecânica


Desconexão Emocional: Quando o conto é apenas lido de forma mecânica, ele pode não ter o impacto necessário para tocar o ouvinte. A leitura desprovida de nuances vocais e envolvimento emocional limita a experiência.

Falta de Imersão: A leitura sem vida impede que o ouvinte se conecte com os símbolos e personagens da história, tornando a sessão menos eficaz.


2. Explicações e Interferências Excessivas


Quebra da Experiência: Explicar demais ou interromper a história com análises pode cortar a conexão simbólica que o conto oferece. A contação, ao contrário, mantém a continuidade e permite uma reflexão mais orgânica.

Direção Rígida: Impor significados limita a capacidade do ouvinte de encontrar sua própria interpretação, bloqueando insights pessoais.


3. Ausência de Identificação e Engajamento


Falta de Ressonância: Se o conto não apresenta elementos com os quais o ouvinte possa se identificar, ele perde sua relevância. Uma contação cuidadosa pode resgatar essa conexão, mesmo em histórias menos familiares.

Falta de Emoção: Uma narrativa sem nuances pode deixar o ouvinte desconectado. Contar a história com expressividade ajuda a evocar emoções e engajar profundamente.


4. Ambiente e Condução Inadequados


Espaço Não Acolhedor: Um ambiente que não favorece a escuta e a concentração pode diminuir o impacto do conto. A contação ajuda a criar um vínculo mais forte, mesmo em espaços menos ideais.

Integração Fraca: Sem um processo de integração após o conto, como reflexões ou atividades criativas, a experiência pode se diluir rapidamente.


5. Conto Tornado Didático


Perda da Magia Simbólica: Tratar o conto apenas como uma lição explícita reduz seu valor terapêutico. A contação restaura a capacidade do conto de tocar o ouvinte de forma intuitiva e emocional, mantendo a magia da narrativa viva.


Conclusão


Para que um conto realmente “dê conta”, ele precisa ser apresentado com vida e intenção. A arte de contar histórias, mais do que simplesmente lê-las, permite que o ouvinte se conecte profundamente, sinta e reflita sobre os símbolos presentes, afinal de contas estamos falando sobre contoterapia, uma terapia que se utiliza de contos para promover desenvolvimento humano, contos esses que vem da tradição oral. Nada mais coerente do que honrar o conceito que a palavra contoterapia convém e mergulhar na oralidade além da leitura. Quando a contação é negligenciada, o conto pode perder sua eficácia, tornando-se apenas uma história. Na contoterapia, o equilíbrio entre a escolha do conto, a maneira como ele é contado e a condução da sessão é o que faz a diferença entre uma experiência superficial e uma verdadeiramente transformadora.

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