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  • A Neurobiologia da Imaginação e a Magia dos Mitos, Contos e Símbolos: Uma Jornada pela Mente Humana

    O universo da mente humana é um campo vasto e fascinante de exploração. Com o avanço dos estudos em neurociência, ganhamos insights valiosos sobre nós mesmos. Um artigo publicado na Frontiers chamado " A Neurobiologia da Imaginação..." (tradução livre e abreviada) aborda a complexidade das imagens mentais, da imaginação e da Rede de Modo Padrão. Dada a importância da imaginação na criação de contos e símbolos, é tentador traçar uma conexão entre a ciência e a arte da narrativa. A imaginação e a Mente Humana A imaginação é uma das capacidades mais fascinantes do ser humano. Ela nos permite criar imagens mentais de situações, lugares e eventos que nunca vivenciamos. Segundo o artigo mencionado, a imaginação é a capacidade de nossos circuitos neurais combinarem imagens com origens perceptuais diretas e conceitos para produzir imagens e especulações originais. Em outras palavras, a imaginação nos permite criar "objetos mentais" novos e únicos, moldados pelo nosso mundo interior. Vou te fazer um convite para fechar os olhos e imaginar um vasto oceano. Cada onda que se forma é um pensamento, e cada corrente que flui, uma emoção. No centro desse oceano, encontra-se uma ilha, a ilha da imaginação. A imaginação é uma das capacidades mais notáveis do cérebro humano. Ela nos permite criar, sonhar e viajar para lugares distantes sem sair do lugar. Por exemplo, pense em J.K. Rowling e sua criação do mundo mágico de Harry Potter. A partir de sua imaginação, ela construiu um universo inteiro que cativou milhões. Mas, o que realmente acontece em nosso cérebro quando imaginamos? A neurobiologia nos mostra que, ao imaginar, ativamos uma rede específica de áreas cerebrais, conhecida como Rede de Modo Padrão (DMN). Esta rede é ativada quando nossa mente vagueia, quando nos perdemos em devaneios ou quando refletimos sobre nós mesmos. Um estudo realizado em 2017 na Universidade de Harvard mostrou que, ao pedir aos participantes que imaginassem cenários futuros, a DMN era consistentemente ativada, indicando seu papel crucial na imaginação. Rede de Modo Padrão A DMN, também conhecida como Rede Cerebral Padrão, é uma rede cerebral de larga escala. Ela é composta por regiões do cérebro que apresentam atividade altamente correlacionada entre si, diferenciando-se de outras redes cerebrais. Esta rede é especialmente ativa quando não estamos focados no mundo exterior, como quando estamos divagando ou sonhando acordados. Contudo, a DMN também se mostra ativa em momentos de introspecção, lembranças e planejamento. Fonte O termo "modo padrão" foi cunhado pelo neurologista Marcus E. Raichle em 2001 para descrever a função cerebral em estado de repouso. Desde então, a DMN tornou-se um tema central na neurociência, com pesquisadores explorando sua função e importância no cérebro humano. Mas a história da DMN remonta a Hans Berger, o inventor do eletroencefalograma, que propôs que o cérebro está constantemente ocupado. No entanto, foi na década de 1990, com o advento da tomografia por emissão de pósitrons (PET), que os pesquisadores começaram a perceber a atividade contínua do cérebro, mesmo em repouso. Inicialmente ela foi observada como estando desativada em certas tarefas orientadas a objetivos, mas pesquisas subsequentes mostraram que ela pode estar ativa em outras tarefas, como memória de trabalho social ou tarefas autobiográficas. Disfunções na DMN foram observadas em pessoas com Alzheimer e transtorno do espectro do autismo. Por exemplo: quando sonhamos acordados, imagine que você está sentado em uma sala de aula ou em uma reunião e sua mente começa a divagar. Você começa a pensar sobre o que fará no fim de semana ou relembra uma memória de infância. Durante esses momentos, a DMN está ativa. Outro exemplo é quando planejamos o futuro, quando você está planejando uma viagem ou pensando sobre seus objetivos de vida, você está usando a DMN. Imaginação e Imagens Mentais O artigo sobre a neurobiologia da imaginação sugere que a imaginação pode emergir da "imagery" (as imagens mentais) através de um processo chamado "exaptação", um conceito da evolução que descreve como características desenvolvidas por uma razão podem ser cooptadas para uma nova função. Por exemplo: imagine as penas nas aves. Originalmente, as penas podem ter evoluído para a termorregulação, ajudando os animais a manterem-se aquecidos. No entanto, ao longo do tempo, as penas foram cooptadas para uma nova função: o voo. Assim, o que começou como uma adaptação para o calor tornou-se crucial para a capacidade das aves de voar. Esse processo de mudança de função é um exemplo de exaptação. A imaginação é vista como um produto da capacidade dos circuitos neurais de combinar imagens com origem perceptual direta e conceitos para produzir imagens e especulações originais. Mas qual a diferença entre imagem mental e imaginação segundo o artigo? Imagem mental é a produção de imagens explícitas e implícitas. As imagens mentais implícitas ocorrem quando as informações perceptuais são acessadas a partir da memória, dando origem à experiência de "ver com a mente" ou "ouvir com a mente". Já a imaginação é a capacidade de formar imagens mentais de algo que não está presente ou nunca foi diretamente experimentado. A imaginação permite criar novas imagens mentais combinando e modificando informações perceptuais armazenadas de maneiras novas, inserindo-as em uma visão subjetiva do mundo. Mitos e Símbolos: Ecos do Passado Em nossa jornada pelo entendimento da mente, encontramos uma floresta ancestral, onde árvores guardam segredos de eras passadas. Estas árvores simbolizam os mitos e símbolos que permeiam nossa cultura e psiques. Os mitos são histórias ancestrais, contadas de geração em geração, carregando verdades universais sobre a existência humana. Eles falam de heróis e monstros, de amores e tragédias, de deuses e mortais. Pense nos mitos gregos, por exemplo. Histórias como a de Ícaro, que voou muito perto do sol, ou de Prometeu, que roubou o fogo dos deuses, carregam verdades universais sobre ambição, punição e redenção. Estes mitos, contados de geração em geração, servem como reflexos de nossas próprias vidas e dilemas. Já os símbolos são como bússolas, guiando-nos através dos labirintos da mente. Eles carregam significados profundos, servindo como chaves para desvendar os mistérios da alma humana. Pense no Yin e Yang, um símbolo que representa a dualidade e a interconexão das forças opostas. Em terapia, mitos e símbolos são ferramentas poderosas, pois nos conectam com nosso eu mais profundo e com a sabedoria coletiva da humanidade. Conclusão Ao final desta exploração, percebemos que ciência e magia, longe de serem opostas, são complementares. Seriam elas duas faces da mesma moeda? A mente humana é um cosmos em miniatura, repleto de estrelas de imaginação, florestas de mitos e cavernas de sabedoria. Assim como os antigos navegadores se orientavam pelas estrelas, nós também podemos usar histórias, símbolos e descobertas científicas como bússolas em nossa jornada existencial. Então, da próxima vez que você se perder em um conto ou se maravilhar com um símbolo antigo, lembre-se da dança mágica da mente e do maravilhoso encontro entre ciência e magia. E continue explorando, pois cada jornada traz novas descobertas e aventuras.

  • Memória, Mistério e Metáfora: A Jornada da Mente Humana

    Desde os tempos antigos, a humanidade tem buscado formas de ampliar sua capacidade de lembrar. Lembrar é estar vivo, é existir. Já quando algo ou alguém não é lembrado, quando cai no esquecimento, é quase como se nunca houvesse existido, não parece assim? As histórias contadas ao redor das fogueiras, as canções que cruzam gerações e as tradições transmitidas de pai para filho são testemunhas da importância da memória em nossa cultura e identidade. E nessa jornada de preservação e introspecção, encontramos paralelos surpreendentes entre as práticas mnemônicas, o mundo das tradições esotéricas e a contoterapia. Práticas Mnemônicas e Porque são Importantes A capacidade mnemônica sempre desempenhou um papel central no desenvolvimento humano. Existem inúmeros estudos sobre a memória. Um exemplo notável é o trabalho de Hermann Ebbinghaus, que desenvolveu a "curva do esquecimento". Seu estudo revelou que a retenção de informações diminui rapidamente com o tempo, mas revisar ou reexaminar essa informação pode ajudar a solidificá-la na memória. Fortalecer a capacidade mnemônica é importante porque: Melhora o Aprendizado: Uma boa memória auxilia na absorção e retenção de informações, facilitando o aprendizado em qualquer área da vida. Tomada de Decisões: Recordar experiências e informações passadas ajuda a tomar decisões mais informadas. Desempenho Profissional: Em muitas profissões, ter uma memória afiada é vital para o desempenho eficaz das tarefas. Relacionamentos: Lembrar-se de detalhes pessoais, conversas e experiências ajuda a construir e manter relacionamentos mais fortes. Para fortalecer a capacidade mnemônica hoje em dia nós podemos: Método do Loci: Envolve associar informações com locais específicos em uma rota familiar. Associação: Relacionar novas informações com algo já conhecido. Revisão Espaçada: Revisar o material em intervalos crescentes. Visualização: Criar imagens mentais. Narrativas: Transformar informações em uma história. Descanso e Sono: Um bom sono é vital para a consolidação da memória. Exercícios Físicos: Estimulam a produção de células cerebrais e neurotransmissores. Assim, rimas e canções, por exemplo, ajudaram civilizações a passar conhecimentos de geração para geração. Quem não se lembra de aprender o alfabeto através da canção do ABC? Tais técnicas facilitam o aprendizado, a tomada de decisões, fortalecem relacionamentos e melhoram nosso desempenho em várias áreas da vida. A tradição oral é um bom exemplo disso. Narrativas sobre antepassados, eventos históricos e mitos culturais foram transmitidos oralmente antes da invenção da escrita, servindo como uma espécie de "Método do Loci" (envolve associar informações com locais específicos em uma rota familiar), onde locais e personagens específicos ajudavam a ancorar e transmitir informações importantes. Tradições Esotéricas Dentro das tradições esotéricas, temos práticas mnemônicas que se entrelaçam com a espiritualidade, simbolismo e a busca por um conhecimento mais encoberto. Algumas conexões incluem: Tarô: O Tarô, com suas imagens simbólicas e arcanos, pode ser usado como uma ferramenta mnemônica. As cartas, com seus símbolos ricos, podem servir como "gatilhos" para ideias mais amplas, histórias ou conceitos espirituais. Meditar sobre o "Eremita", por exemplo, pode evocar introspecção, busca de sabedoria e solidão, ajudando o praticante a conectar-se com arquétipos universais e insights espirituais. Imagens Arquetípicas: Dentro de várias tradições esotéricas, certas imagens ou símbolos têm significados arquetípicos profundos. Meditar sobre essas imagens ou incorporá-las em rituais pode servir como um meio de acessar camadas mais profundas da memória ou do inconsciente coletivo. Lugares de Poder: Assim como o Método do Loci usa locais familiares para ancorar memórias, algumas tradições místicas falam de "lugares de poder" ou locais sagrados que têm significados esotéricos. Meditar ou realizar rituais nesses lugares pode aprimorar certas habilidades mnemônicas ou espirituais. Práticas Hermetistas: O Hermetismo, uma tradição esotérica baseada nos ensinamentos atribuídos a Hermes Trismegisto, frequentemente envolve o uso de símbolos, rituais e meditações que podem ter componentes mnemônicos. Árvore da Vida e Cabala: Na tradição mística judaica da Cabala, a Árvore da Vida é um diagrama esquemático que representa a criação e a organização do universo. Cada sefirah (ou esfera) na Árvore representa um atributo de Deus ou um aspecto da criação. Alguns ocultistas usam a Árvore da Vida como uma ferramenta mnemônica para meditar sobre esses conceitos, visualizando-se viajando por seus caminhos e esferas. Meditação: Em muitas tradições espirituais, a meditação é usada não apenas para a tranquilidade da mente, mas também para acessar memórias profundamente enraizadas, sejam elas desta vida, de vidas passadas ou de verdades universais. É importante notar que, enquanto as práticas mnemônicas são geralmente pragmáticas e orientadas para resultados (como lembrar informações), o uso de técnicas semelhantes no esoterismo e na metafísica frequentemente tem objetivos mais amplos, como a transformação espiritual ou a obtenção de insights místicos. Contoterapia® e Histórias Terapêuticas No âmbito da Contoterapia®, encontramos as chamadas "histórias terapêuticas", que são narrativas construídas com o objetivo de ajudar uma pessoa a enfrentar e superar problemas emocionais ou psicológicos. Elas podem ser usadas por terapeutas como uma ferramenta dentro de uma sessão de terapia, ou podem ser escritas especificamente para uma pessoa ou situação. Essas histórias são moldadas de forma a ressoar com o ouvinte, permitindo-lhe ver a situação de um novo ângulo ou identificar-se com um personagem. Aqui estão algumas características das histórias terapêuticas: Metáforas: Essas histórias muitas vezes usam metáforas para representar situações ou emoções reais. Por exemplo, um personagem preso em uma tempestade pode representar alguém lidando com depressão. Personagens Identificáveis: O ouvinte ou leitor pode se identificar com um personagem, vendo suas próprias lutas e triunfos refletidos neles. Resolução: Embora nem sempre tenham um final feliz, essas histórias geralmente oferecem alguma forma de resolução ou insight sobre o problema em questão. Elementos de Esperança e Empoderamento: Muitas histórias terapêuticas têm elementos de esperança, mostrando que a mudança e o crescimento são possíveis. Quando bem feitas, histórias terapêuticas têm o poder de bypassar resistências cognitivas e alcançar o ouvinte em um nível emocional profundo. Elas podem ajudar a reenquadrar problemas, oferecer novas perspectivas, e até mesmo iniciar o processo de cura. Seja no contexto da contoterapia ou como uma ferramenta autônoma, as histórias terapêuticas são um meio poderoso de promover insight, compreensão e crescimento pessoal. Vida Prática Na vida prática, entender e aplicar estas técnicas de memória, tradições esotéricas e contoterapia pode ter um impacto profundo. Na educação, facilita a retenção de informações e a compreensão de conceitos. Na vida cotidiana, ajuda a manter conexões emocionais com entes queridos e a preservar tradições familiares e culturais. No campo terapêutico, permite que indivíduos acessem e processem traumas e emoções, facilitando a cura e o autoconhecimento. Assim, ao valorizar e integrar a memória, as tradições esotéricas e a contoterapia, estamos não apenas honrando o passado, mas também enriquecendo o presente e iluminando o caminho para um futuro mais consciente e conectado.

  • O Poder Transformador do Lúdico para Adultos: Uma Jornada entre a Imaginação e a Realidade

    No momento em que nos tornamos adultos, muitos de nós abandonamos o mundo da imaginação em nome da seriedade e da responsabilidade. Entretanto, há um poder oculto no lúdico que todos nós, independentemente da idade, podemos acessar. É nessa fronteira entre a realidade e a fantasia que encontramos cura, crescimento e entendimento profundo. Definição e Essência: O que é Lúdico? O termo "lúdico" deriva do latim "ludus", que significa jogo ou brincadeira. Lúdico refere-se à natureza do jogo, da brincadeira e das atividades que envolvem alegria, imaginação e espontaneidade. No entanto, é mais do que apenas jogar. O lúdico envolve a capacidade de entrar em um estado de envolvimento profundo, onde as regras usuais da realidade podem ser suspensas e a imaginação é livre para explorar. Para adultos, isso significa uma oportunidade de se desconectar das pressões diárias, refletir sobre a vida e redescobrir o prazer de simplesmente "ser". Desmistificando Conceitos: Lúdico vs. Infantil O lúdico é frequentemente associado à infância, mas não é sinônimo de infantil. O "infantil" se refere a comportamentos e características específicas da infância, enquanto o "lúdico" é um estado de mente e coração que pode ser acessado em qualquer idade. Enquanto o comportamento infantil pode ser visto como imaturo ou não apropriado para adultos, o lúdico é uma expressão genuína de curiosidade, maravilha e criatividade. Visões Históricas: Perspectiva Filosófica Historicamente, filósofos, como Platão, já viam o jogo como uma maneira de descobrir verdades universais. No século XX, Johan Huizinga, no seu livro "Homo Ludens", investiga a importância do jogo na formação da cultura. Ele argumenta que o jogo é uma atividade primordial que antecede a cultura, é uma manifestação fundamental do espírito humano e permeia muitas atividades que não consideramos tradicionalmente como "jogo", como a arte, a guerra, a poesia e até mesmo a justiça. Ele revela que o jogo é a base da cultura, argumentando que rituais, tradições e até sistemas legais evoluíram a partir de formas lúdicas de interação. Já Friedrich Schiller em sua obra "Cartas sobre a Educação Estética do Homem", propõe que o ser humano alcança sua forma mais elevada através do jogo. Para ele, a brincadeira não era apenas uma atividade frívola, mas um meio de transcendência e harmonia entre os impulsos sensíveis (físicos) e formais (intelectuais ou racionais) do ser humano. No ato de brincar, as tensões entre essas duas esferas são equilibradas, permitindo que o indivíduo alcance uma forma de liberdade e autenticidade. O jogo, para Schiller, é a expressão da liberdade humana, pois nele o indivíduo não é impelido por necessidades externas, mas age de acordo com sua própria vontade e prazer. Descobertas Psicológicas: Um Mergulho na Psicologia Em nossa busca por compreender a complexidade do comportamento e da mente humana, frequentemente nos voltamos para as tradições antigas e as práticas cotidianas que moldam nosso mundo. Entre elas, o lúdico e os contos surgem como ferramentas potentes para decifrar o emaranhado da psique humana. E não estamos sozinhos nessa jornada: renomados psicólogos ao longo da história também reconheceram sua importância. Jean Piaget Jean Piaget destacou a importância do lúdico no desenvolvimento cognitivo, especialmente através dos jogos simbólicos. Estes refletem a capacidade de usar símbolos e palavras para representar realidades ausentes. De forma similar, os contos utilizam simbolismo e metáforas para transmitir mensagens profundas, conectando-se com o universo interior de crianças e adultos. Lev Vygotsky: Lev Vygotsky enfatizou a interação social e a influência cultural no desenvolvimento cognitivo. Ele destacou o papel do lúdico na aprendizagem, assimilando sua importância ao universo dos contos e histórias. Estas narrativas, ricas em interações e ensinamentos culturais, oferecem a crianças e adultos uma forma de explorar e entender suas realidades sociais e culturais. Carl G. Jung: Carl G. Jung via o lúdico e os contos como instrumentos de autoconhecimento. Ele introduziu conceitos como arquétipos e "sombra" para descrever padrões universais de pensamento e comportamento. Ao identificar personagens arquetípicos em histórias, como o herói ou o vilão, estamos, na verdade, explorando representações simbólicas do nosso inconsciente. Para Jung, histórias não são meramente entretenimento, mas sim reflexões profundas de nossa psique, são janelas para nossa alma. D.W. Winnicott: Winnicott enfatizou o conceito de "espaço potencial", destacando o papel vital do jogo e da criatividade na saúde emocional, tanto para crianças quanto para adultos. Ele via os contos como um espaço similar ao jogo, servindo de ponte entre o indivíduo e o mundo externo. Para Winnicott, jogos, assim como histórias, são ferramentas poderosas de introspecção e compreensão do mundo. Conexões Neurais: O Impacto do Lúdico e dos Contos no Cérebro Neurocientificamente, o lúdico desencadeia a liberação de neurotransmissores como dopamina e serotonina, associados ao prazer, recompensa e bem-estar. A atividade lúdica também é conhecida por estimular regiões do cérebro responsáveis pela criatividade e resolução de problemas. Ao ler um conto ou jogar, diversas áreas do nosso cérebro são ativadas: Identificação com Personagens: Quando uma história descreve um personagem em movimento, áreas cerebrais ligadas ao movimento se ativam, como se estivéssemos realizando a ação. Neurônios-Espelho: Estas células fazem com que sintamos as ações que observamos. Quando um personagem ri, por exemplo, áreas cerebrais ligadas à emoção são acionadas. Benefícios do Jogo: Jogos são mais do que diversão. Eles estimulam a adaptabilidade do cérebro, um fenômeno conhecido como plasticidade cerebral. Além disso, liberam dopamina, associada ao prazer e aprendizado. Emoção e Memória: Histórias emocionantes são mais facilmente lembradas porque o cérebro prioriza informações carregadas de emoção. Redução de Estresse: Atividades lúdicas podem diminuir os níveis de cortisol, o hormônio do estresse. O Lúdico na Terapia: A Narrativa e o Lúdico no Espaço Terapêutico Narrativas, desde mitos antigos a contos populares, são valiosas na terapia. Elas refletem aspectos profundos de nossa mente, permitindo-nos abordar e resolver conflitos internos. Exemplos de Narrativas e Seus Significados: Mito de Orfeu e Eurídice: Traz reflexões sobre perda e luto. Fábula da Lebre e a Tartaruga: Aborda a paciência e os riscos do excesso de confiança. Conto da Bela Adormecida: Representa transformação e passagem do tempo. Mito de Ícarus: Trata da ambição e autodescoberta. História de Cinderela: Enfatiza resiliência e autoestima. Terapeutas utilizam essas narrativas para ajudar na compreensão de emoções. Para adultos, ativar o lado lúdico pode ser feito ao: Revisitar histórias da infância com perspectiva atual. Engajar-se em atividades criativas. Compartilhar e interpretar histórias com outros. Benefícios desta prática incluem: Estímulo à empatia. Redução de estresse. Fomento à criatividade. Fortalecimento de laços sociais. Integração e Reflexão: O Valor Duradouro do Lúdico Em resumo, o lúdico é essencial em todas as idades, permitindo uma combinação entre realidade e fantasia. Ele é uma poderosa ferramenta de autoconhecimento e bem-estar. E como afirmava meu professor de storytelling: a ludicidade traz leveza e sustentabilidade ao trabalho com histórias.

  • Descubra o Poder Oculto dos 95%: A Jornada de Autoconhecimento Através dos Contos

    Você já teve a sensação de que a maior parte das suas escolhas na vida acontece de forma automática, como se fossem feitas por um piloto automático interno? Isso acontece porque, surpreendentemente, apenas 5% das decisões que tomamos são controladas pela nossa mente consciente. Os outros 95% são determinados pelo nosso inconsciente, uma parte misteriosa e influente de nossa psique. Neste artigo, embarcaremos em uma jornada fascinante para desvendar o poder oculto dos 95%. Você descobrirá como essas escolhas inconscientes afetam sua vida diária e como a contoterapia pode ser uma chave para acessar e compreender esse mundo interior. O Domínio Oculto Quando alguém menciona a mente consciente, estamos falando daquilo que sabemos que sabemos. É o nosso pensamento deliberado, nossa capacidade de tomar decisões lógicas e analisar informações. No entanto, esses 5% de consciência têm um impacto muito menor em nossas vidas do que imaginamos. Os outros 95%, representados pelo nosso inconsciente, são um território vasto e enigmático. Eles são compostos por camadas de memórias, experiências, crenças, valores, desejos e emoções profundamente arraigados. É um local onde informações são processadas de maneira muito diferente da mente consciente. O Mundo das Imagens Uma característica notável do inconsciente é a sua comunicação predominantemente através de imagens. Enquanto a mente consciente se expressa por meio de palavras e pensamento lógico, o inconsciente opera no reino das imagens e sensações. As imagens têm o poder de evocar emoções intensas e muitas vezes complexas, moldando nossas reações e escolhas sem que percebamos. A ideia de que o inconsciente se comunica por meio de imagens é uma característica central da psicologia junguiana, desenvolvida por Carl Gustav Jung. Jung foi um psicólogo suíço que trabalhou no início do século XX e é conhecido por suas teorias sobre o inconsciente coletivo e os arquétipos. Jung acreditava que o inconsciente coletivo era uma camada profunda da psique humana que continha elementos compartilhados por toda a humanidade. Ele argumentava que essa parte do inconsciente se comunicava principalmente por meio de imagens simbólicas, que ele chamou de arquétipos. Jung via os sonhos, fantasias, mitos e símbolos como janelas para o inconsciente, onde essas imagens simbólicas desempenhavam um papel crucial na expressão dos desejos, medos e aspirações das pessoas. A teoria de Jung não se baseou em pesquisa empírica no sentido estrito, como experimentos controlados. Em vez disso, ela se desenvolveu a partir de sua prática clínica como psicoterapeuta, bem como de sua própria introspecção e análise pessoal. Jung acreditava que a exploração profunda da psique por meio da análise de sonhos e da interpretação de símbolos era uma maneira importante de entender a mente humana. O Desafio do Acesso Você pode estar se perguntando: "Como posso acessar e controlar esse vasto território de imagens e emoções?" Essa é uma pergunta intrigante e desafiadora, e a verdade é que o acesso direto ao inconsciente é uma tarefa complexa. Afinal, como podemos controlar algo que opera principalmente fora de nossa percepção consciente? Para isso, não há um método único e definitivo para fazê-lo. No entanto, existem várias abordagens e técnicas que podem ajudar a explorar o inconsciente e a tornar conscientes os processos que normalmente ocorrem abaixo da superfície da mente. Aqui estão algumas maneiras de acessar e trabalhar com o inconsciente: análise de sonhos, meditação e mindfulness, hipnose, terapia psicanalítica, terapia junguiano, terapia cognitivo-comportamental (quando se inclina a identificar crenças automáticas), arte e expressão criativa e o bom e velho autoconhecimento. É importante lembrar que o inconsciente é vasto e complexo, e não podemos ter controle total sobre ele. Em vez disso, o objetivo muitas vezes é trazer à consciência o que está no inconsciente para compreender melhor nossos pensamentos, sentimentos e comportamentos. Além disso, a ajuda de um terapeuta treinado pode ser valiosa ao explorar o inconsciente, pois eles podem oferecer orientação e apoio ao longo desse processo. No âmbito da contoterapia, esse acesso se dá através das imagens dos contos, da tradução dos símbolos encontrados, do impacto emocional dessas imagens e a consequente mudança de comportamento que surge dessa interação. A Jornada de Autoconhecimento Ao perceber a influência massiva do inconsciente em nossas vidas, muitos de nós sentimos a necessidade de explorar e compreender esse território desconhecido. Até porque a busca por controle e o atendimento da necessidade de previsibilidade nos leva a explorar e compreender o desconhecido, pois é só transformando o desconhecido em conhecido que conseguimos nos conhecer cada vez mais. Só podemos exercer escolhas assertivas de coisas que conhecemos. Ações que nascem do inconsciente são ações que não passam pelo nosso processo de reflexão e escolha. Essa jornada é o primeiro passo para a transformação pessoal e o desenvolvimento humano. É o momento em que começamos a nos questionar: "O que há dentro desses 95%? Como essas imagens e emoções moldam minha vida? O que posso fazer para saber mais sobre isso e sobre mim mesmo?" Contos e Histórias: Ferramentas de Transformação Uma das descobertas mais emocionantes nessa jornada é que histórias e contos têm um papel fundamental na alimentação do nosso mundo interno, ou seja, nosso inconsciente. Imagine que nosso mundo interno é composto por nossas emoções, imaginação, valores, aprendizados, experiências e desejos, e que as histórias são o alimento desse mundo. Portanto, se os contos e histórias têm o poder de nutrir nosso mundo interno, e o que existe em nosso mundo interno influencia nossa vida, consciente ou inconscientemente, é natural começar a explorar essa possibilidade com entusiasmo. A Jornada da Transformação Pessoal A partir desse insight, uma jornada de transformação pessoal se desenha diante de nós. Começamos a nos abrir para mais histórias, mais narrativas, mais contos. Com a ajuda dos contos, acessamos, reconhecemos e transitamos por esse mundo imaginal com mais facilidade. O conceito de "mundo imaginal" é mais associado à tradição da psicologia transpessoal e à obra do filósofo e psicólogo James Hillman. Hillman, juntamente com outros pensadores da psicologia arquetípica e transpessoal, explorou a importância da imaginação e das imagens na psicologia e na espiritualidade. O conceito sugere que há uma dimensão psíquica ou espiritual onde as imagens têm uma existência independente e significativa. Nesse contexto, o mundo imaginal não é um lugar físico, mas sim um reino da psique onde as imagens ganham vida e influenciam nossa experiência e compreensão do mundo. Para Hillman e outros pensadores semelhantes, a imaginação não é apenas um subproduto da mente, mas uma força ativa que pode revelar insights profundos sobre nós mesmos e sobre a natureza do mundo. Eles argumentam que a exploração do mundo imaginal pode ser valiosa para a psicoterapia, o autoconhecimento e a espiritualidade. Gradualmente assim, o contato com os contos e a prática de histórias - ler ou ouvir uma história, refletir sobre ela, criar e contar - se tornam a principal ferramenta nesse trabalho de autoconhecimento e mudança. O Desafio que Todos Enfrentamos Então, caro leitor, agora você se pergunta: "O que há nos meus 95%? Como posso explorar esse mundo interior?". Essas perguntas não têm respostas simples, pois cada um de nós é único em sua jornada. No entanto, talvez um dos passos seja reconhecer a influência dos 95% em sua vida e estar disposto a explorar esse território misterioso. A Contoterapia® oferece um caminho empolgante para essa exploração. Ela nos convida a utilizar histórias e contos como ferramentas poderosas para compreender e moldar nosso mundo interior. Ao fazer isso, podemos começar a acessar e transformar os 95% de maneira consciente e positiva. Você está pronto para iniciar sua jornada rumo aos 95%? As histórias estão esperando para guiá-lo nessa emocionante aventura de autoconhecimento e transformação pessoal. Abra-se para a magia dos contos e descubra o que está escondido em seu mundo interior. Abraços, Anna Rossetto

  • Desenvolvendo a Capacidade de Resolver Desafios com Leveza

    Olá, É ótimo tê-lo acompanhando nossa jornada de descoberta e desenvolvimento pessoal. Em um post anterior, compartilhei com você insights sobre como nossas mentes operam, especialmente o papel significativo que nosso inconsciente desempenha em nossas vidas. Hoje, vamos explorar como podemos utilizar ferramentas, como os contos, para desenvolver nossa capacidade de resolver desafios com leveza e discernimento. Um Breve Resumo Antes de entrarmos profundamente neste tópico, é bom lembrar o que já aprendemos até agora. Descobrimos que apenas 5% de nossas decisões diárias vêm da mente consciente, enquanto impressionantes 95% são influenciados pelo inconsciente. Essa revelação, por si só, é fascinante e sugere que existe uma vastidão desconhecida em nosso interior, pronta para ser explorada. No início, lidar com os 95% de nosso inconsciente pode parecer assustador e desafiador. Afinal, como podemos entender e influenciar o que não sabemos que está lá? Essa é uma questão válida e é por isso que gostaria de compartilhar uma abordagem alternativa que transformou minha perspectiva. A Linguagem das Palavras e das Imagens Uma das chaves para desvendar esse território desconhecido está na compreensão da forma como nossa mente se comunica. No mundo consciente, utilizamos principalmente a linguagem das palavras para expressar nossos pensamentos e sentimentos. No entanto, quando adentramos o mundo do inconsciente, a comunicação é predominantemente feita por meio de imagens e sensações. Um trecho do livro "Feche os Olhos e Veja", de Izabel Telles, resume bem essa diferença: "A palavra é a linguagem do mundo consciente, e a imagem é a linguagem do mundo inconsciente." Portanto, enquanto nossa mente consciente lida com o mundo externo usando palavras, a mente inconsciente opera com imagens e emoções. O Poder das Imagens Aqui está o aspecto crucial: as imagens têm um poder profundo sobre nossas emoções e ações. Elas têm a capacidade de evocar sentimentos intensos e influenciar nossas escolhas de maneira significativa. O interessante é que muitas vezes essas influências acontecem sem que tenhamos consciência delas. Um Exemplo Cotidiano Vamos considerar um exemplo simples para ilustrar esse ponto. Imagine que alguém lhe ofereça uma segunda fatia de bolo, e você já está satisfeito. Sua mente consciente deseja simplesmente dizer "não", uma palavra curta e direta. No entanto, antes de proferir essa palavra, sua mente inconsciente entra em ação. Você começa a imaginar o rosto da pessoa que fez o bolo, pensando no esforço e carinho que ela colocou na preparação. A imagem da pessoa triste ao ouvir um "não" começa a se formar em sua mente. Essa imagem evoca uma série de emoções em você, como a preocupação de magoá-la. Como resultado, você hesita em dizer "não" e acaba aceitando a fatia extra. O Poder das Imagens Internas Esse exemplo simples demonstra como as imagens internas que carregamos, moldadas por nossos valores, crenças e experiências, têm um impacto direto em nossas ações. Mesmo quando nossa mente consciente decide de uma maneira, nossas imagens internas podem nos levar a agir de maneira diferente, alinhada com nossas emoções e valores. Reprogramando a Mente com Contos Agora, você deve estar se perguntando como podemos usar esse entendimento para nosso desenvolvimento pessoal. A resposta está na mudança de percepção e na reprogramação de nossa mente (embora eu confesse não ser muito fã da palavra reprogramação porque dá uma impressão de que somos máquinas inanimadas e que basta simplesmente programar, quando sabemos que somos muito mais complexos que isso). Quando começamos a reconhecer a influência das imagens internas em nossas vidas, podemos explorá-las conscientemente para gerar mudanças positivas. E é aqui que entram os contos e histórias como ferramentas transformadoras. Descobri que estar consciente dessas narrativas é uma maneira poderosa de nutrir nosso mundo interno com as imagens e mensagens que desejamos incorporar. As palavras dos contos se transformam em imagens internas que ressoam conosco de maneira única, e cada imagem evoca emoções e pensamentos que podem nos ajudar a repensar e ressignificar desafios e conflitos em nossas vidas. Tudo isso de maneira leve, lúdica, respeitosa e nem por isso menos impactante ou transformadora. O Caminho para a Transformação e a Capacidade de Resolver Desafios Minha jornada pessoal e minha experiência com a Contoterapia® me levaram a entender que essa mistura de linguagem verbal e imagética pode ser uma das chaves para desenvolver nossa capacidade de resolver desafios com leveza e discernimento. À medida que continuamos a explorar o vasto território de nosso inconsciente e a alimentá-lo com imagens e histórias positivas, nos abrimos para um mundo de possibilidades de crescimento pessoal. Portanto, convido você a se juntar a mim nesta emocionante aventura de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. Se lançar na jornada pelo terreno desconhecido do inconsciente é uma aventura que pode transformar radicalmente a maneira como vivemos nossas vidas e enfrentamos os desafios que surgem pelo caminho. Nos próximos posts, continuaremos a explorar estratégias e práticas que podem ajudar a moldar positivamente nosso mundo interno e externo. Até lá, aproveite a jornada e mantenha a mente aberta para as surpresas que o inconsciente pode revelar. Abraços, Anna Rossetto

  • O que é contoterapia?

    A Contoterapia A Contoterapia® é uma abordagem terapêutica que utiliza contos como ferramenta para promover o desenvolvimento humano. Essa técnica proporciona uma maneira leve e transformadora de explorar temas complexos, focando especialmente no desenvolvimento da cognição, imaginação e inteligência emocional. Começando pelo básico O que é Contoterapia? A palavra terapia no dicionário é descrita como o tratamento que busca amenizar ou acabar com os efeitos de uma doença (física, psíquica, motora, etc). Técnica que trata doenças ou problemas psíquicos. Já o conto é uma narrativa breve e concisa, contendo um só conflito, uma única ação. Segundo a wikipedia, conto é uma narrativa que cria um universo de seres, de fantasia ou acontecimentos. Como todos os textos de ficção, o conto apresenta um narrador, personagens, ponto de vista e um enredo. Encontramos contos de diversas formas; contos folclóricos, maravilhosos, de fadas, mitos, lendas entre outros. Inclusive podemos encontrar ou criar contos biográficos. O contato frequente com contos e histórias alivia os desconfortos gerados pela fricção da nossa atual subjetividade e a relação com a realidade externa. O uso de contos para este propósito se destaca principalmente para o desenvolvimento da cognição, da imaginação e da inteligência emocional. Então veja, contoterapia é o uso de contos para fins de tratamento ou alívio de sintomas. É uma maneira de trabalhar temas humanos complexos de forma leve e transformadora. De estimular a imaginação pois é com ela que podemos trilhar novos caminhos. Na contoterapia a imaginação é vista como um recurso de cura. E essa é uma abordagem de apoio para qualquer outra abordagem terapêutica. Os contos são utilizados nas mais diversas áreas: psicologia, educação, programação neurolinguística, religiões, terapias integrativas e muito mais. Benefícios do uso dos contos São inegáveis os benefícios do uso do discurso indireto, dos símbolos e das metáforas característicos desse universo de contos, quando falamos de desenvolvimento humano e construção de subjetividade. Principalmente porque eles alcançam profundidades e abordam com mais sucesso as complexidades inerentes ao ser humano ao driblarem a lógica, a racionalidade, a análise, os filtros morais, as crenças da mente consciente e inconsciente. Pensando no modelo trino do aparelho psíquico de Freud - mente consciente, pré-consciente (subconsciente) e inconsciente - os contos trabalham fundamentalmente na camada subconsciente da nossa mente, a camada da memória menos recente, dos sonhos, da produção de símbolos e imagens e o reino da imaginação. E se convidarmos Jung para a conversa perceberemos que as idéias elementares dos contos poderiam facilmente existir no inconsciente coletivo. O trabalho do contador de histórias é colocar imagens em ação, entre ele e o mundo interno do seu ouvinte. É proporcionar movimento. Ao contar histórias o objetivo é estimular o movimento em direção a novas perspectivas que podem promover equilíbrio, resolução, cura. Buscamos a contoterapia como recurso quando precisamos de clareza e procuramos por uma mudança de comportamento que venha de dentro, algo duradouro, que se reflete nas novas escolhas que fazemos no dia a dia, na paz e equilíbrio que alcançamos quando nos deparamos com o tema trabalhado no conto, seja esse tema desafiador ou não. E como isso funciona? Quando entramos em contato com histórias, partes do cérebro envolvidas em fazer previsões também são atividades. Segundo Lisa Cron, no seu livro Wired for Story (2012) "As histórias nos permitem simular uma experiência intensa sem ter que realmente vivê-las. As histórias nos permitem experimentar o mundo antes de realmente ter que experimentá-lo". De certa forma ativamos nosso cérebro e transformamos a história em nossa própria ideia e experiência. Um estudo realizado na Universidade de Princeton em 2010 registrou a atividade cerebral em duas pessoas enquanto uma contava uma história e a outra ouvia. Perceberam que quanto maior a compreensão do ouvinte, mais de perto os padrões de onda cerebral espelhavam os do contador de histórias. Os pesquisadores mencionaram que era como se o cérebro do ouvinte tentasse se tornar semelhante ao cérebro do contador de histórias, em áreas que realmente capturavam o significado, a situação e o contexto de mundo. No que tange nossa saúde, as pessoas são mais propensas a mudar seus estilos de vida quando veem um personagem que se identificam com a mesma mudança. Anedotas podem tornar os conselhos de saúde pessoalmente importantes para um paciente. Quando a pessoa ouve ou lê sobre alguém com quem se identifica e que tomou a medicação, é mais provável que ela também o faça, de acordo com a professora de comunicação da Universidade de Buffalo Melanie Green. Além disso as histórias podem alterar atitudes mais amplas como nossas opiniões sobre relacionamento, política ou meio ambiente. O uso dos contos Pensando nos movimentos de cura, contoterapia é uma palavra que descreve com mais clareza a razão de se usar contos neste contexto. Aqui, os contos não são necessariamente usados para entreter em primeiro lugar. Em alguns casos usa-se para educar, mas principalmente para desenvolver a inteligência emocional, a resiliência e empatia, para promover a liberdade e o movimento pelas diferentes perspectivas que a história traz, construindo a subjetividade da pessoa com o objetivo de harmonizar e equilibrar. E convenhamos, as histórias são usadas desde que o ser humano é ser humano. Arriscaria dizer neste caso, que a contoterapia é tão antiga quanto os seres humanos. Afinal, o que será que faziam os guias espirituais, das antigas civilizações, quando entravam em transe para fazerem suas buscas no plano astral e espiritual e retornavam para contar as histórias do que viram por lá? Metodologia na Contoterapia® Entendemos então que, aqui no nosso contexto, a contoterapia é o uso dos contos na busca por amenizar sintomas de ordem psíquica e emocional, impacta na construção da nossa subjetividade, no nosso comportamento e no processo de auto conhecimento. E isso é o nosso O QUE. Agora, COMO podemos fazer isso? Com certeza de diversas formas, tantas quanto descobrirmos e desenvolvermos. Onde temos contoterapia Eu já vi contoterapia em muitos lugares. No ambiente profissional com clientes e alunos e no pessoal com amigos e familiares. Já vi pessoas trabalhando com contos para equilibrar sem necessariamente usar a palavra contoterapia para descrever seus trabalhos, como também já vi a palavra sendo utilizada para descrever diferentes tipos de contoterapias. Já vi profissionais que utilizam esse termo em inglês (story therapy) desde 1974, como também vi profissionais utilizarem esse termo em espanhol (cuentoterapia) desde o ano de 2000. Alguns clamando que foram os inventores do termo ou da abordagem. Particularmente, acredito que contoterapia é democrática e me parede que uma coisa é fato: ninguém é criador de contoterapia, não é possível o uso de contos para fins terapêuticos ser algo inédito, único ou exclusivo de uma pessoa ou instituição. Pode-se usar o termo para descrever as particularidades do trabalho de cada profissional que usa contos em suas abordagens. Como vimos, pessoas no mundo todo vem desenvolvendo a muito tempo seus trabalhos em contoterapia. Estamos sempre em evolução e adaptação e usar histórias é algo que todos podemos fazer. Agora, justamente por sempre estarmos evoluindo e nos adaptando é que temos a possibilidade de desenvolver diferentes metodologias que atendam diferentes necessidades e mesmo assim tudo continuar sendo contoterapia. Aqui no nosso caso, a Contoterapia® como marca registrada é um método que cria contos terapêuticos e que encontrou nesse termo uma descrição apropriada e verdadeira do que oferece. O que não significa que criamos a contoterapia, apenas que idealizamos um método. Por aqui, o uso e a criação de contos, de práticas de histórias, com intenção terapêutica, numa metodologia específica, vem sendo desenvolvido e aperfeiçoado desde 2016. A construção dessa metodologia aconteceu de forma empírica no começo. A princípio os contos eram associados à outras abordagens de terapias integrativas como a Reprogramação Biológica® - que trata doenças biológicas com informação e a conscientização da nossa percepção de mundo, baseada nas leis biológicas e nas leis sistêmicas, na PNL, entre outras - assim como também na Comunicação Não-Violenta, Tarot Sistêmico, Reiki, AIM, Personal and Self Coaching e mais algumas abordagens para criar contos terapêuticos em um atendimento individualizado. Hoje em dia, além da contoterapia individual, também trabalha-se a prática de histórias em abordagens estimulantes para grupos, através de cursos e oficinas. O que percebi nessa jornada Entre 2015 e 2016 percebi que precisava fazer um ajuste fino nesse meu olhar para o processo de uso de contos e abordagens terapêuticas. Eu achava que quem vinha primeiro eram as abordagens terapêuticas e depois os contos, pois cronologicamente fazia sentido isso na minha trajetória profissional. Foi uma diferença sútil e ao mesmo tempo uma grande lição de humildade, perceber que na verdade, os contos vem muito antes de qualquer abordagem, técnica ou metodologia que poderemos desenvolver e que venham a se utilizar deles como ferramenta ou agente de mudança. Re-conheci que os contos estão no mundo a muito mais tempo do que qualquer um de nós, que são tão generosos que nos possibilitam associar qualquer abordagem que trabalhe com desenvolvimento humano à eles. Em 2016, além do ambiente presencial também comecei a divulgar com mais foco no ambiente virtual. Nessa época, uma amiga e consultora em desenvolvimento de negócios me aconselhou a registrar a marca Contoterapia® no Brasil e eu segui seu conselho. Em 2019 mudei com minha família para continuar meus estudos dentro do mundo do storytelling e segui minhas especializações no Emerson College em Sussex, Inglaterra, uma faculdade antroposófica que tem uma escola internacional de contação de histórias e que forma contadores de histórias do mundo inteiro com um olhar mais voltado para o desenvolvimento humano e desde então venho trabalhando com contadores de histórias do mundo todo, fazendo diversos outros cursos, em diferentes escolas e com diferentes profissionais, dentro dessa área. No momento presente, a Contoterapia® como metodologia e marca registrada trabalha com o ofício do contador de histórias assim como com a influência das terapias integrativas para desenvolver competências que proporcionem uma vida com mais significado praticando histórias. Para além da procura por um conto individual, incentivo a busca desse significado, proporcionando autonomia para que a pessoa trilhe seu próprio caminho por esse mundo dos contos. Tanto desenvolvemos competências de escuta, quanto de oralidade, utilizando contos folclóricos, de fadas, mitos e lendas, quanto criamos contos biográficos e terapêuticos. Realmente busca-se desenvolver todas as habilidades necessárias para se trabalhar com contoterapia. Como mencionei antes, o uso dos contos foi e ainda é como plantar uma semente, uma imagem, de reprogramação mental para resolução de conflitos e momentos desafiadores no reino do subconsciente. Afinal de contas o arquétipo das histórias nos mostra o movimento do lugar limitado para o lugar de superação. E convenhamos, conforme vamos avançando como sociedade e como seres humanos, também nossas necessidades vão se diferenciando. Nossos limites e superações vão mudando e assim, cada vez mais técnicas são desenvolvidas e elaboradas para nos ajudar com os nossos desafios. A Contoterapia® é democrática Atualmente muita água já passou por baixo dessa ponte. Estar em contato com pessoas do mundo inteiro, com projetos, com profissionais das áreas de saúde, professores, contadores de histórias, voluntários em países em conflitos, vem me mostrando que realmente a contoterapia acontece em muitos lugares. Cada um desenvolve formas diferentes de encaixar os contos para suas necessidades e contextos e isso também é contoterapia. Se você contou histórias para nutrir ou sanar algum desafio ou comportamento, com ou sem metodologia, influenciado apenas pelo poder do conto ou tendo algum conceito ou formação por trás da sua ação, parabéns. Você foi naquele momento um contoterapeuta. Mercado na Contoterapia No que tange regulamentação, profissionalização, cursos e formações, propriedade intelectual ou qualquer coisa nesse sentido, não existe nada que regule esse “mercado”, pelo menos no Brasil e também desconheço algo nesse sentido fora dele. Seria até estranho, você concorda, dizer que o uso de algo tão antigo quanto os contos ou quanto contar histórias, seja algo único, inédito ou exclusivo de uma determinada abordagem terapêutica. O que claro, não impede que cada pessoa possa desenvolver suas próprias metodologias, expressando suas experiências e singularidades na combinação do uso dos contos com qualquer outra prática, afinal de contas é o que venho fazendo. Mas então como fazer para escolher a contoterapia que mais atende minhas necessidades, como escolher qual contoterapia fazer ou estudar? Bom, para responder essa pergunta vou te contar uma breve história… O velho mestre convocou a aluna mais querida e entregou-lhe um livro. “Você segura em suas mãos tudo o que eu ganhei através de anos de meditação e estudo. Valorize este livro com a sua vida.” A discípula se curvou diante do mestre e, sem hesitar, jogou o livro em uma braseiro próximo, onde as chamas o consumiram rapidamente. Ela se tornou a nova mestre. Em outras palavras, pesquise, se informe. Descubra onde você quer chegar e o que precisa para chegar lá, descubra quem pode te oferecer isso, consulte sua intuição, estude, estude e estude mais um pouco. Contudo, pratique muito, experimente, registre, persevere, se permita, pois a permissão que você se dá é a permissão que você dá para seu ouvinte, mas principalmente, nessa jornada escolha um caminho que, além de lhe permitir que você se torne o seu próprio mestre, você também se divirta. As coisas não são sustentáveis sem diversão. Nessa área de contos e histórias, a pessoa se torna um mestre quando percebe que é ela que serve as histórias, não são as histórias que servem ela. O seu servir pode vir de muitas formas. Exemplos de contoterapia no mundo - uso prático Pelo que você viu até agora, imagino que já tenha percebido que contoterapia é um campo muito amplo, generoso e inclusivo o suficiente para abrigar diferentes abordagens, metodologias, técnicas e maneiras de executá-la, afinal ela é uma abordagem de apoio. Vamos então descobrir algumas formas pelas quais as pessoas utilizam as histórias para construir a subjetividade, trazendo harmonia e equilibrio para a vida umas das outras? Há uma prática que aprendi com o meu professor de storytelling, aqui na faculdade antroposófica em Sussex e que sempre que tenho oportunidade busco fazer nas oficinas da Contoterapia® - divulgar os trabalhos com histórias que vem acontecendo por esse mundo. É uma forma de inspirar e não limitar o uso das histórias em um único contexto, como algo exclusivo, quando falamos de abordagens de cura e conexão. Vamos para alguns exemplos: A Livraria Humana A Livraria Humana - é uma organização e movimento internacional que começou em Copenhague, na Dinamarca, em 2000. Tem como objetivo abordar os preconceitos das pessoas, ajudando-as a conversar com aqueles que normalmente não se encontrariam. Lá, as pessoas vão de livro ou de leitor. Quem é o livro, conta histórias biográficas para quem é o leitor. Utilizam uma técnica chamada storytrigger. Combatentes pela paz Combatentes pela paz - é uma ONG israelense-palestina e um movimento de base igualitário, binacional, comprometido com ações não violentas contra a “ocupação israelense e todas as formas de violência” em Israel e nos territórios palestinos. Diversas pessoas participam desse trabalho inclusive ex combatentes que, devido ao seu conhecimento do território, organizam a entrada nas cidades dos dois países para contar histórias. Lá, contam histórias biográficas de como entre eles, palestinos e israelenses, existe paz, e antes que o exército os possa alcançar eles finalizam a contação de histórias e partem. Casa do Contador de Histórias Casa do Contador de Histórias - um local para formação de contadores de histórias que incentiva o trabalho voluntário em escolas e instituições de saúde, se localiza em Curitiba no Paraná (e foi lá que eu comecei minha trajetória) Instituto História Viva Instituto História Viva - é um instituto que já formou mais de 3.500 voluntários para trabalhar em comunidade com as histórias Associação Griots Associação Griots - Os Contadores de Histórias são uma instituição sem fins lucrativos que desenvolve um trabalho intenso de contação de histórias em hospitais. Há ainda muitos outros projetos que sequer chegam a ser publicados no mundo virtual. Uma das professoras da faculdade antroposofica aqui na Inglaterra, uma italiana que é a diretora da escola de contação de histórias na Itália. Ela realiza projetos de storytelling nos pequenos vilarejos, incentivando adolescentes a coletarem as histórias de vida dos mais idosos. Em uma noite de apresentação, recontam essas histórias para a vila inteira, gerando vínculo e conexão na sociedade, além de todo um trabalho sistêmico que acontece como consequência. Onde mais Há os clubes de contação de histórias espalhados pelo mundo todo que contemplam uma vasta gama de profissionais, tanto contadores de histórias profissionais e performáticos quanto profissionais que utilizam as histórias em settings educacionais e terapêuticos. Em Emerson College mesmo, durante minhas formações nos cursos de storytelling, muitos dos meus colegas eram profissionais do NHS. O sistema de saúde britânico (equivalente ao SUS no Brasil). Estavam lá para aprofundarem seus conhecimentos para usar a contação de histórias no ambiente de trabalho. Eles são profissionais dos mais variados setores, desde psicoterapeutas que atendiam pacientes diretamente, quanto diretores que utilizavam as histórias para criar conexão com as equipes de trabalho. Exemplos de contoterapia no mundo - uso teórico Além desses trabalhos que são realizados dentro do âmbito mais prático e “concreto” desse ofício de se usar contos e contar histórias, encontramos também muitas coisas no âmbito educacional, muitos estudos que relatam o uso dos contos e seus benefícios: Corpo em Equilíbrio Corpo em Equilíbrio. Oficinas de imunidade realizada pela conceituada Nancy Mellon. A partir de seu livro em parceria com Ashley Ramsden. Nele utiliza-se os conhecimentos da medicina tradicional chinesa, da arte terapêutica e do storytelling para contar histórias para nossos órgãos internos. Tive o prazer de estudar tanto com o Ashley quanto com a Nancy. Contoexpressão Contoexpressão. A minha querida amiga Claudine Bernardes, na sua metodologia com contos chamada Contoexpressão utiliza a contoterapia Sociedade Internacional de Hipnose Sociedade Internacional de Hipnose. O artigo está em inglês e podemos saber como se dá o uso dos contos no contexto terapêutico Histórias para Vida Histórias para Vida. Um centro de aconselhamento em Berlin que utiliza contos de fadas, uma forma de terapia que usa o processo criativo para lidar com traumas e outros problemas emocionais. Essa metodologia é ensinada na escola de contos de fadas terapêuticos na Hungria Cruzando Histórias Cruzando Histórias. Uma organização da sociedade civil brasileira que escuta, acolhe e desenvolve pessoas que estão sem trabalho e renda. E mais E isso que não postei sobre todos os artigos acadêmicos pelos quais passei. Na minha pós graduação em contação de histórias, nem todo o conhecimento adquirido em pesquisas. Além é claro das inúmeras outras coisas que desconheço, nesse mundo de contos e histórias. Também não mencionei que para além do fantástico trabalho da Clarisse Pinkola Estes ou da Sharon Blackie, da Alida Gersie ou da Jenny Pearson, há tantos e tantos outros estudos, livros, artigos de profissionais de diversas áreas, no mundo ocidental e oriental. Ah, e isso tudo ai em cima nem sequer chegou perto de uma outra área que causa fascinação - a interpretação de contos. Neste caso precisaríamos mencionar alguns autores e profissionais, como, Bruno Bettelheim, Mary Louise Von Franz, Diana e Mário Corso, Rudolf Steiner, Heinrich Zimmer, Mircea Eliada. O incrível trabalho de construção de histórias de Alida Gersei e Nancy King. O maravilhoso trabalho pedagógico de Sueli Pecci Passerini. O trabalho sistêmico de Brigitte Gross e Jakob Scheneider. O trabalho com metáforas na área de PNL da Vânia Lúcia Slaviero e tantos outros. Concluindo A Contoterapia® é uma jornada fascinante que utiliza contos como ferramenta para o desenvolvimento humano e a construção da subjetividade. Ela é uma abordagem inclusiva que pode ser aplicada em várias áreas da vida e tem o potencial de promover cura e transformação. Lembrando que a Contoterapia® é uma abordagem complementar à saúde e ao bem-estar, e não deve substituir tratamentos médicos ou psicológicos quando necessário. Se você estiver interessado em experimentar a Contoterapia®, é importante procurar um profissional qualificado para orientá-lo em sua jornada de descoberta e transformação. Então é isso, torço para que esse texto tenha ajudado a clarear, na medida do possível, esse tema para você. Se você se interessou em saber as possibilidades aqui na Contoterapia® é só clicar aqui. Qualquer coisa entra em contato para trocarmos idéias. Prezo muito esses espaços de trocas pois neles encontramos a possibilidade de rever o que precisa ser revisto, crescer e expandir nossos mundos. Abraços Anna Rossetto

  • Urgência ou Emergência - Quando usar a Contoterapia®

    Do ponto de vista concreto a Contoterapia® é uma abordagem de apoio. Ela não tem contraindicação e pode ser utilizada junto com qualquer outra intervenção que visa trazer equilibrio emocional, psíquico e inclusive físico. Então a contoterapia é um abordagem de apoio do ponto de vista concreto. Já do ponto de vista metafísico, essa visão para além das coisas físicas, que busca o conhecimento da essência das coisas, um pensamento mais reflexivo, que faz perguntas do tipo "o que somos?” “de onde viemos?” “para onde vamos?”, esse pensamento filosófico que questiona o que nos faz interpretar a realidade e que geralmente pega a via lógica, nos contos, nas histórias, pega a via mitológica. Então muitas e muitas histórias, do ponto de vista metafísico, trazem respostas para essas perguntas. São histórias salutares para as nossas angústias existenciais. Agora, na lógica nós conseguimos reconhecer um característica linear de se pensar, como se subíssemos uma escada, um passo de cada vez. As histórias nos convidam a ascender de uma forma que não necessariamente é linear. Quase como se ao invés de uma escada ascendêssemos usando aquela gaiola gínica, ou gaiola labirinto, de parquinho de criança. Inclusive o uso desses brinquedos vai muito além da diversão, com eles nós desenvolvemos nossos sistema vestibular, aumentamos nosso foco por tempo prolongado, desenvolvemos habilidades de raciocino lógico e esse brinquedo em específico ajuda a desenvolver o equilíbrio e a segurança. Mas eu preciso confessar, mitos, contos de fadas, maravilhosos ou folclóricos não tem pé nem cabeça. Isso porque eles não são escadas, se muito, eles estão mais próximos de gaiolas gínicas. Pensamento lógico, linear não te leva longe nas histórias. Para você prosperar nesse conteúdo, você precisa de pensamento alegórico, simbólico, metafórico. Você precisa conseguir enxergar o sentido único de coisas aparentemente divergentes. E se você já se deu conta, você sabe que os nossos conteúdos simbólicos impactam profundamente nossa vida concreta. Se desconhecemos essa nossa dimensão, inevitavelmente vamos querer resolver coisas simbólicas, com atitudes concretas. Saber a diferença entre essas suas duas dimensões é fundamental. Porque sim, muitas vezes buscamos soluções concretas, um remédio, um objeto, uma comida ou uma roupa, para questões simbólicas, uma ansiedade, uma aprovação externa, um vazio, ou uma auto estima. A Contoterapia® pode até não ser indicada para uma emergência, para ameaças imediatas, mas ela certamente poderá atender urgências, ameaças futuras. Porque histórias podem mudar, transformar percepções de mundo que não nos favorecem. Elas podem nos levar para navegar por lugares e realidades em nós mesmos que concretamente jamais acessaríamos. Imagine que histórias são como um cobertor, busque, se envolva, se aconchegue ao redor de histórias que promovam o seu crescimento.

  • Níveis de Contoterapia

    O que é Contoterapia? Contoterapia é o uso de contos como ferramenta de desenvolvimento humano. Confesso que essa é a versão mais resumida que consigo chegar sobre tudo o que a contoterapia pode fazer. Existe uma postagem bem completa sobre esse assunto aqui. Poderíamos falar de benefícios, de resultados, de metodologias, aplicações, áreas de influência e com certeza seria encantador. Mas quando falo de nível de contoterapia é porque quero chamar a atenção para as sutilezas da sua aplicação. Afinal de contas, utilizar contos, que são muitos, no contexto de desenvolvimento, que são variados, pode ficar meio vago. E para que haja clareza de raciocínio vale a pena nos atermos a alguns conceitos e definições. O que chamamos de conto é geralmente um gênero textual marcado pela narrativa curta, escrita em prosa e de menor complexidade em relação aos romances. A origem dos contos está relacionada à tradição de contar histórias de forma verbal. Quando transcritas, essas mesmas histórias (que geralmente seguem uma trama única) resultam em uma narrativa concisa que pode ser lida em pouquíssimo tempo. Diferença da Biblioterapia Então veja, diferente da biblioterapia que é um método facilitador do desenvolvimento pessoal e da resolução de problemas através dos livros, segundo Phersson e McMillen, 2006, encontrado no site A Biblioterapeuta, a contoterapia tem como foco o uso de histórias, dos contos, de acordo com a tradição oral. Não é sobre ler uma história, é sobre contar uma história. E é aqui que a sutileza chega e começamos a perceber diferentes níveis de aplicação. Não existe contoterapeuta que não é contador de histórias. Se os contos nasceram da tradição oral, e, contoterapeutas utilizam esses contos, o mínimo que podemos esperar é que essa contoterapeuta seja um contador de histórias, realmente conheça a arte de contar histórias, conheça e percorra esse ofício. Não faz sentido muito sentido um contoterapeuta que não conta histórias, não é mesmo? O ofício do contador de histórias é a base para a utilização dos contos como ferramenta. Só isso Anna? Então todo contador de histórias é um contoterapeuta? Eu acho que não deixa de ser. Afinal, desde o início dos tempos os contadores de histórias tem sido professores, artistas, guias, defensores de mudanças e curadores da humanidade. O que o contoterapeuta percebeu foi que abordar as complexidades da experiência humana, os comportamentos e os sentimentos e emoções com história é de certa forma, muito eficaz porque é respeitoso, é indireto e é uma língua universal. A língua universal E qual é a língua universal? Qual é a língua que gera união? A linguagem simbólica. Independentemente de qual língua falada utilizamos, a linguagem simbólica é a única compreensível à todos os seres humanos, é a única que unifica. E onde encontramos símbolos e alegorias aos montes? Onde encontramos imagens aos montes? Onde encontramos a união de imagem e significado/sentido? Um dos lugares, embora não único, é definitivamente nos contos. O contoterapeuta trabalha no reino intermediário e precisa da linguagem simbólica para ter cada vez mais desenvoltura no seu ofício. Esse trabalho no reino intermediário impacta o reino concreto, muito embora não seja nele praticado. Nesse sentido, quantas e quantas outras abordagens de desenvolvimento humano podem se beneficiar do uso de contos? Várias não é? A contoterapia é definitivamente uma pratica de apoio a qualquer outra abordagem terapêutica e que o casamento do contador de histórias com o profissional que trabalha com essas outras abordagens resultaria em contoterapeutas. Os níveis de contoterapia Agora, e os níveis Anna? Aí é que está, contoterapia tem menos a ver com o uso de recursos para contar histórias e muito mais a ver com a permissão de mergulhar no próprio mundo interno para servir histórias. E só aprendemos a fazer isso, a acessar essa vulnerabilidade, a dar essa permissão, ao percorrermos o ofício do contador de histórias. Ao experienciarmos consistentemente a arte de contar histórias. Contar histórias é sobre compartilhar imagens e não sobre falar palavras. Qualquer um pode falar palavras, mas quantos conseguem realmente compartilhar imagens? E sim, dá para contar palavras, ou mesmo até contar imagens, mas nesse caso corremos o risco de permanecermos num nível muito mental e de pouca transformação. A beleza e a eficácia de se trabalhar com contos como uma ferramenta de desenvolvimento humano vem da conexão que acontece além das palavras, a conexão das emoções geradas pelas imagens. Afinal de contas, somente em torno de 20% de nossa comunicação se dá em palavras, dados, fatos. Os outros 80% esta relacionado com intenção, emoções, micro expressões faciais, postura, pensamento, etc. Os níveis de contoterapia são os níveis que o contoterapeuta se permite experimentar ao mergulhar na história que escolheu trabalhar. Percebemos facilmente esses níveis graças aos nossos neurônios espelho. Experimentamos exatamente o que o contoterapeuta se permitiu experimentar, não tem como mentir isso, é uma conexão além das palavras, além do consciente. Inclusive, tem um estudo realizado pela Universidade de Princeton em 2010 que registrou atividade cerebral em duas pessoas enquanto uma contava uma história e a outra ouvia. Perceberam que quanto maior a compreensão do ouvinte, mais de perto os padrões de onda cerebral espelhavam os do contador de histórias (Stephens, 2010). Num mundo ideal, a história que esse contoterapeuta está utilizando é uma história que ele se permitiu mergulhar. Quanto mais permissão ele se der, mais permissão ele te dá e mais transformador seu processo será. Stephens, G.J. et al. Speaker-listener neural coupling underlies successful communication. PNAS, 2010, Disponível em: https://www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.1008662107

  • A Imaginação Mítica

    Nas minhas andanças pelo mundo dos contos, aqui nessa terra tão conectada com a cultura celta, ouvi sobre o trabalho de uma escritora, psicóloga e mitóloga que publicara livros tão potentes quanto o famoso Mulheres que Correm com Lobos da Clarissa P. Estes. Mitologia celta? Obviamente me interessei, tanto por isso quanto por uma sempre existente atração por trabalhos mais longe dos holofotes. Sharon Blackie é seu nome. Em sua brilhante palestra no Tedx Talks, ela nos fala sobre A Imaginação Mítica. Sua capacidade de colocar pontos importantes do mundo das histórias em tão poucos minutos é surpreendente e inspiradora. Tomei a liberdade de traduzir livremente minha compreensão da mesma para compartilhar por aqui - essa não é uma tradução literal ok - para inspirar você e sua consciência sobre os mitos pelos quais vive. Para assistir sua palestra na íntegra é só acessar aqui. Os Mitos e o Nosso Lugar No Mundo. Por sermos seres conectados as histórias, é por meio delas que começamos a extrair e construir significados do mundo ao nosso redor. Elas são quase como as estrelas que usamos para navegar desde os tempos antigos. As lições que tiramos delas podem ser significativas, ricas, profundas, memoráveis; ouro nem sempre é um bom objetivo, sempre há uma porta para um outro mundo se aprendermos a procura-las, nunca nunca tente se mutilar para caber em sapatos de cristal que foram feitos para outra pessoa, sempre deixe um trilha de pão para achar a saída da floresta e também muito importante, nunca tire sua pele e a deixe sem vigilância. Os personagens dessas histórias podem ser grandes ferramentas de aprendizado para nós. O enredo dessas histórias trazem as tarefas que esses personagens precisam passar, mas também nos mostram as tarefas cujas quais nossa alma passa na vida. Essas histórias nos mostram diferentes maneiras de sermos/estarmos no mundo, um mundo que é de fato rico em encantamento. E desde tempos imemoriais nós nos reunimos ao redor da fogueira, em cabanas ou em palácios reais para contar histórias uns aos outros sobre como o mundo veio a ser e sobre o nosso lugar nele. Essas histórias são conhecidas como mitos. Mitos são histórias com um certo peso pois elas explicam a natureza, falam sobre deuses, sobre heróis e por conta dessa característica explicativa, essas histórias sustentam crenças e valores morais das civilizações de cujas quais surgiram, quase como se fossem narrativas guias pelas quais vivemos. E todas as civilizações tem suas mitologias, sendo que essas narrativas não são apenas religiosas, elas também podem ser seculares. Tipos de Narrativas. Os tipos de narrativas que encontramos nessas histórias que mais sustentam a maneira como enxergamos nossa civilização hoje em dia seriam: O mito do “mais”, o mito do progresso. Mais mais mais. Essas narrativas nos falam que cada geração precisa ter ou acumular mais do que a geração anterior. Precisa-se ter casas maiores, trabalhos melhores, carros mais potentes, tem que viver mais, ser mais bonito. Elas nos dizem que precisamos produzir mais coisas o tempo todo e que precisamos consumir essas coisas, porque, ao fazermos isso, aparentemente, seremos mais felizes e mais saudáveis e se não fizermos isso a economia vai parar de crescer e quem sabe as terríveis coisas que podem acontecer. Então ficamos de certa forma presos nessas estranhas histórias distópicas onde os personagens são consumidores e assim esses personagens são definidos por aquilo que compram. Poderíamos dar um passo atrás e nos perguntar se são essas as histórias que realmente gostaríamos de estar, se não preferiríamos mergulhar mais profundamente na fonte daquilo que já temos ao invés de remar na parte mais rasa. O próximo seria o mito do herói: O mito do herói está um tanto quanto amarrado ao mito do “mais”, porque, um pouco diferente dos heróis de épocas passadas, os heróis atuais não são apenas sobre ser o melhor que eles podem ser, mas sobre serem melhores do que as outras pessoas. E é fácil de perceber isso, principalmente em mitos com super heróis, pois todos querem ser mais poderoso, mais especial do que o restante das pessoas. Todo mundo deseja ser um Harry Potter, quem desejaria ser um trouxa? E isso é o resultado de uma narrativa subjacente em nossa cultura que nos encoraja a ser individualista, competitivo e a querer sempre mais de tudo. Histórias Pós-Heróicas. Então, como seria uma história “pós-heróica”? Como seria se pudéssemos encontrar uma história que nos una mais profundamente no mundo ao invés de uma história que nos coloca acima, fora, olhando para o mundo a partir de um lugar de privilégio? As histórias pós-heróicas são sobre aprender a viver de forma mais profunda no mundo que temos agora. Não é sobre individualidade e competição. É sobre construir comunidade e reconhecer diversidade. Nas histórias pós-heróicas não se quer matar o dragão, mas sim, trazer ele para fazer parte do time com suas habilidades únicas de cuspir fogo. É o tipo de narrativa que você vive uma história com seu estômago metade vazio pois assim você dá metade da sua comida para o rato faminto e por consequência, lá na frente, o rato pode vir e te ajudar a separar o joio do trigo. Nessas histórias não se vai direto para conquistar a mão da princesa de cabelos dourados, não, nelas você se levante e encara o terrível javali de rosto azul ou você beija a bruxa fedorenta. Não são histórias sobre mais, são histórias sobre quando você tem o suficiente. Não são sobre competição, são sobre compaixão, como a busca pelo Graal nas lendas arturianas onde o cavaleiro precisa fazer uma pergunta para conseguir obter o Graal, curar o ferimento do Rei Peixe e para curar a terra inculta e seca na qual o mundo havia se tornado. E a pergunta na história é simples, “o que lhe aflige?”. E tanto faz a resposta nessas histórias pós-heróicas, não é sobre a resposta, é sobre saber fazer as perguntas corretas de compaixão. São essas histórias que nos passam valores mais enriquecedores pelos quais viver. A questão é que a maioria de nós não pensam em progresso e heroísmo como algo que sustenta uma certa cultura mitológica. Até porque não é realmente nos apresentado dessa forma, na verdade, nos apresentam não como uma história que podemos escolher, mas sim como o mundo realmente é. Acontece que, como o mundo realmente é de acordo com essas mitologias de “mais”, de progresso, de heroísmo, só é realmente bom para as pessoas mais ricas e poderosas no planeta. Essa mitologia cultural não é particularmente boa para os outros milhões de pessoas que passam fome e tampouco para os animais abatidos ou extintos, porque afinal de contas, se pararmos para analizar, essas mitologias fundamentais, essa mitologia “guia”, esta literalmente nos custando o planeta. Além do planeta, essas mitologias também não nos beneficiam tão pouco, pois embora claramente temos mais “riqueza” que as gerações anteriores, Desajustados Míticos. E veja, os mitos pelos quais cada um de nós vive, os nossos mitos pessoais, as histórias que contamos sobre nós e nosso lugar no mundo, na verdade são histórias nascidas e vividas dentro dessa estrutura cultural mitológica. Então se a mitologia guia da nossa cultura é rica e nutritiva, ela nos inspira e nos trás significado mas se nossa mitologia se torna árida e sem coração então nós nos tornamos alienados e cruéis. Se você já não vive mais pela mitologia cultural padrão, as histórias que as gerações anteriores contaram sobre si mesmas, se você acha que isso é falho, inadequado, então de certa forma você caiu para fora do mito. E cair fora do mito é cair fora do sentido, porque mito é acima de tudo sobre sentido. Mudança começa primeiramente com imaginação, com imaginação mítica, com a habilidade de imaginar histórias que são melhores, histórias que nos ajudam a ver o nosso lugar no mundo de outra maneira, que nos entrelaçam e nos enredam de volta a teia da vida ao invés daquelas que nos fazem olhar tudo de cima ou de fora. Se o mito que sustenta a nossa cultura está falhando conosco vamos transformá-lo. Por que não? Humanos sempre foram criaturas criadoras. Jung uma vez disse se a mitologia de uma cultura está morrendo, se provando inadequada para as necessidades das pessoas e do planeta então o poder de fazer mitos reside nos indivíduos. Que o nascimento de um mito individual na imaginação dessa pessoa ou grupo de pessoas pode literalmente se espalhar e mudar o mundo. Assim, são esses “desajustados míticos” que dão o pontapé inicial para a transformação cultural, pois eles re-imaginam histórias que nos ajudam a nos apaixonarmos pelo mundo de novo. Histórias que encantem a nós, aos nossos filhos, ao mundo. Quando o fogo ardente de uma civilização começa a morrer, algumas poucas chamas individuais permanecem. E quando essas chamas recebem um pouco de ar, quando nos debruçamos sobre elas e as assopramos, elas podem começar um novo fogo. Com as faíscas do nossa própria imaginação mítica, vamos ascender esse fogo de novo. Contoterapia. Para mim essa palestra foi um chamado de presença, um farol, um incentivo para seguir firme com o trabalho de incentivar a criação de histórias por aqui, além, claro, das habilidades orais necessárias para esse ofício. Estar na ponta onde como contoterapeutas criamos um conto, onde nossa imaginação é criadora, é tão importante quanto estar na ponta da imaginação como criatura que recebe um conto pronto para trabalhar. Porque sim, precisamos desenvolver nossa capacidade de criar novos mitos que sirvam ao mundo que queremos viver.

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